Médicos cabo-verdianos defendem aposta na formação e continuidade de políticas

31 de Dezembro 2023

O bastonário da Ordem dos Médicos Cabo-verdianos (OMCV), Danielson da Veiga, considera que o país cometeu “alguns erros” a nível da saúde desde a independência e defende uma aposta na formação médica e continuidade de políticas.

“Desde a independência, Cabo Verde cometeu alguns erros em relação ao programa do sistema de saúde”, avaliou o médico, em entrevista à agência Lusa, embora reconhecendo que em termos práticos o país obteve sucessos, graças à resiliência do seu povo.

“Mas um médico recebe pouco dinheiro, sem tempo para se dedicar à sua família, à educação dos seus filhos e está nos hospitais às vezes quase durante 24 horas. E nem sequer está ali a pressionar, a sair à rua para fazer greves”, descreveu, lembrando que nunca houve uma greve de médicos com grande relevância no país.

“Embora sempre houve queixas da parte dos médicos. Mas, sabendo que é um povo resiliente, com pouco faz muita coisa”, argumentou, constatando que em Cabo Verde nunca houve um plano de formação contínua de médicos.

“Sou especialista na área de cirurgia porque escolhi cirurgia por amor a essa área, mas não foi uma orientação política do sistema”, lamentou o bastonário, reconhecendo que já foram feitos alguns planos no setor, mas nunca houve continuidade por parte dos sucessivos governos.

“Ficamos nessa situação e temos que contar com a cooperação”, referiu, na entrevista à Lusa, a propósito da aprovação no parlamento, em 08 de dezembro, da proposta de lei de doação, colheita e transplante de órgãos humanos.

“Daqui a pouco vamos completar os 50 anos de independência, devíamos já hoje ter todos os especialistas em todas as áreas, com vários hospitais regionais e a contar com os nossos especialistas, propriamente cabo-verdianos”, insistiu Danielson da Veiga, para quem há uma “fome de formação” em Cabo Verde.

Por isso, sugeriu uma aposta naqueles que não têm condições financeiras para poderem estudar e a criação de um fundo para a formação no país.

É que, conforme disse, o país tem poucos médicos especialistas e há falta de outros técnicos de saúde, fazendo com que os que existem trabalhem durante muitas horas, ficando num “impasse” sobre a sua qualificação e validação da sua competência.

“A população pode achar que o médico não o tratou bem, sabendo que esse médico já estava a trabalhar 24 horas por dia, no seu ponto máximo”, afirmou, pedindo, por isso, “muita mudança” e um “maior envolvimento” entre políticos e técnicos de todas as áreas.

Segundo informação na página oficial da OMCV na internet, a ordem conta com 723 médicos inscritos e 60 estruturas de saúde.

Há dois anos, a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) colocou no mercado os primeiros 17 médicos formados no país, numa parceria com a Universidade de Coimbra.

O Governo tem ainda em curso o projeto do Hospital Nacional de Cabo Verde (HNCV), que deverá ser construído na zona de Achada Limpo, concelho da Praia, com capacidade máxima de 134 camas, sendo 12 para cuidados intensivos.

Orçado em 7,2 mil milhões de escudos (65 milhões de euros), com previsão de conclusão – apesar de a obra ainda não ter sido lançada – dentro de quatro anos, a unidade tem por objetivo melhorar o nível de cuidados de saúde e reduzir os tratamentos no estrangeiro.

Segundo o Governo, a futura infraestrutura de saúde não vai substituir os dois hospitais centrais públicos do país – Agostinho Neto, na Praia, e Batista de Sousa, em São Vicente –, mas sim complementar a oferta disponível e maximizar os recursos.

LUSA/HN

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