Em declarações à agência Lusa, Carlos Cortes disse ter recebido denúncias há algumas semanas, que considerou “suficientemente preocupantes” para o levar a deslocar-se àquele hospital.
“Efetivamente, foram reportadas dificuldades (…), mas eu gostaria de falar com os médicos diretamente, tentar perceber as dificuldades e, efetivamente, avaliar se essas dificuldades se transpõem também para a parte assistencial e para a parte formativa. Tenho de fazer essa avaliação amanhã no terreno”, acrescentou.
Numa carta aberta hoje divulgada, um grupo de médicos do Hospital de Cascais – uma Parceria Público-Privada – anunciou a entrega de declarações de escusa de responsabilidade por falta de condições para assegurar em segurança a prestação de cuidados adequados aos doentes do foro neurológico.
Na missiva dirigida à tutela da Saúde, ao bastonário da Ordem dos Médicos e à Direção Executiva, divulgada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), os mais de 20 especialistas em Medicina Interna do Hospital de Cascais dão conta da “grave diminuição da capacidade assistencial.
“Desde agosto de 2023 que se tem vindo a assistir a uma diminuição da capacidade assistencial do Serviço de Neurologia deste hospital, fruto da saída de vários médicos neurologistas desta instituição, inclusivamente com risco de perda da idoneidade formativa”, alertam.
Explicam que, atualmente, o Serviço de Neurologia “é formalmente composto apenas por uma médica, que apresenta horário reduzido, não tendo capacidade para assegurar internamento (…), ou sequer apoio adequado à urgência ou ao internamento das restantes especialidades”.
“Existem ainda outros dois médicos que colaboram como prestadores de serviço apenas na prestação de consultas, mas ainda assim com manifesta incapacidade para suprir a necessidade de seguimento dos doentes com patologia deste foro, nomeadamente de doenças com elevada prevalência como as doenças cerebrovasculares, epilepsia e síndromas demenciais”, acrescentam.
Referem que está igualmente comprometida a capacidade de realização de exames como o ecodoppler dos vasos do pescoço, o eletroencefalograma, a eletromiografia, entre outros, “atrasando e dificultando os diagnósticos”.
Os médicos adiantam que existem várias doenças do foro neurológico com diagnóstico e tratamento com as quais os internistas “não estão familiarizados”, sublinhando: “o facto de sistematicamente assumirmos a tomada de decisão em relação ao seguimento destes doentes é francamente deletério para os mesmos”.
Para tentar encontrar solução, pedem a criação de um protocolo de articulação com outro hospital ou Unidade Local de Saúde com capacidade para prestar este tipo de cuidados diferenciados aos doentes com patologia do foro neurológico afetos à área de residência do Hospital de Cascais até que esta capacidade esteja novamente garantida.
Após 14 anos a gerir a parceria público-privada (PPP) do Hospital de Cascais, a Lusíadas Saúde desistiu do novo concurso, em 2022, por já não estar garantida a sustentabilidade económica.
Numa entrevista ao jornal Negócios na segunda-feira, o presidente executivo do Grupo Lusíadas Saúde explicou que o novo contrato adicionou um conjunto de valências e novas áreas de influência, que tornavam as contas deficitárias.
NR/HN/Lusa
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