Nova classificação da tuberculose visa apoiar esforços para eliminar a doença

23 de Março 2024

Uma equipa internacional de investigadores apresentou uma nova forma de classificar a tuberculose, que visa dar mais atenção aos estágios iniciais da doença, indica um comunicado da britânica University College London (UCL) divulgado hoje.

O novo quadro classificativo, publicado na revista científica The Lancet Respiratory Medicine, procura substituir a abordagem do último meio século à doença, que os cientistas, incluindo da UCL, dizem estar a limitar o avanço da sua erradicação.

Atualmente, a tuberculose é definida como ativa (causando doença e potencialmente infecciosa para outros) ou latente (no caso da pessoa infetada pela bactéria que causa a doença, mas que se sente bem e não é contagiosa).

No entanto, “inquéritos importantes realizados recentemente em mais de 20 países demonstraram que muitas pessoas com tuberculose infecciosa se sentem bem”, refere o comunicado da UCL.

A nova classificação inclui quatro estados de doença: clínico (com sintomas) e subclínico (sem sintomas), sendo cada um deles classificado como infeccioso ou não infeccioso.

Um grupo diverso de 64 especialistas desenvolveu “o quadro do Consenso Internacional para a Tuberculose Precoce (ICE-TB)”, que esperam “ajude a conduzir a um melhor diagnóstico e tratamento das fases iniciais da doença, que têm sido negligenciadas na investigação”.

Segundo o comunicado, a tuberculose continua a ser a doença infecciosa mais mortal do mundo, tendo causado mais de mil milhões de mortes nos últimos 200 anos.

Calcula-se que anualmente três milhões de casos, mais de metade dos quais assintomáticos, não são comunicados às entidades sanitárias.

O Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal 2022, da Direção-Geral da Saúde (DGS), divulgado hoje, revela que Portugal manteve nesse ano a redução progressiva dos casos de tuberculose, totalizando 1.518, embora continue a ser um dos países europeus com maior incidência da doença.

A diretora do Programa Nacional para a Tuberculose da DGS, que publica o documento, Isabel Carvalho, declarou à agência Lusa que os casos não estão “a reduzir tão rápido” como o desejado para atingir os objetivos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe até 2035 de reduzir em 95% as mortes por tuberculose e em 90% a taxa de incidência, tendo como valores de base os de 2015.

“O paradigma binário de doença ativa versus infeção latente resultou num tratamento antibiótico único, mas desenvolvido para as pessoas com a forma mais grave da doença. Isto leva a um potencial tratamento excessivo de indivíduos com TB (tuberculose) subclínica”, disse Hanif Esmail, da UCL e coautor principal do trabalho, citado no comunicado.

“Uma prioridade fundamental da investigação agora é identificar a melhor combinação dos antibióticos, a sua dosagem e a duração do tratamento para cada estado de TB, bem como os benefícios do tratamento dos estados subclínicos”, adiantou.

Rein Houben, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e também coautor principal do artigo, assinalou que, “embora o tratamento de pessoas muito doentes com TB tenha salvado milhões de vidas, não se está a impedir a transmissão da doença”.

“Para evitar a transmissão da TB precisamos de deixar de nos concentrar apenas nas pessoas muito doentes e olhar para os estados anteriores, identificando pessoas que podem infetar outros durante meses ou anos antes de desenvolverem sintomas da doença”, disse ainda.

A equipa internacional foi liderada por investigadores da UCL, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, do Instituto Walter e Eliza Hall (WEHI), da Universidade da Cidade do Cabo, do Imperial College London e do Conselho Sul-Africano de Investigação Médica.

O Dia Mundial da Tuberculose assinala-se a 24 de março, ou seja, no próximo domingo.

LUSA/HN

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