José López: Pioneirismo e Inovação na Neuroreabilitação Avançada”

06/06/2024
José López, cofundador e Diretor Clínico do Centro Europeu de Neurociências (CEN)

Em entrevista exclusiva ao nosso jornal, José López, cofundador e diretor clínico do Centro Europeu de Neurociências (CEN), explora a origem, o impacto e as inovações desta instituição pioneira em neuroreabilitação. Criado com a intenção de centralizar experiências e recursos obtidos nas mais prestigiadas instituições internacionais, o CEN oferece uma abordagem intensiva e multidisciplinar para o tratamento de lesões do sistema nervoso central. Desde terapias avançadas até uma personalização no atendimento, conhecemos como este centro tem transformado a vida de centenas de doentes, inclusive durante os desafios impostos pela pandemia de COVID-19. López compartilha também histórias inspiradoras de recuperação e planos ambiciosos para o futuro, reforçando o compromisso contínuo com a humanização e a excelência no cuidado oferecido.

Healthnews (HN) – Como é que surgiu a ideia de fundar o Centro Europeu de Neurociências e qual foi o principal motivo da sua criação?

José López (JL) – Depois de anos de trabalho e investigação, tanto em Espanha como nas mais prestigiadas instituições de reabilitação de acidentes vasculares cerebrais e lesões do sistema nervoso central na Suíça, nos EUA e em Inglaterra, e de trabalhar com doentes nesses mesmos países, a minha sócia, Cristina Vázquez, e eu decidimos fundar o Centro Europeu de Neurociências (CEN), um centro pioneiro de neuroreabilitação intensiva.

A nossa intenção era clara: integrar todas estas experiências e recursos num local centralizado e especializado. Depois de uma carreira internacional de sucesso, estávamos convencidos da necessidade de trazer todo esse conhecimento e experiência para Espanha. Embora o início tenha sido complicado. A pandemia da COVID atrasou todas as nossas previsões, mas em apenas cinco anos tornámo-nos num centro de referência para conseguir recuperações que vão além do prognóstico dado aos pacientes.

Até à data, tratámos várias centenas de doentes e orgulhamo-nos de dizer que 100% deles obtiveram melhorias significativas em relação à reabilitação convencional, tanto na fase aguda como na fase crónica da doença.

HN – Em que é que a abordagem integrada CEN difere das práticas convencionais de neuroreabilitação?

Difere na medida em que é uma abordagem intensiva, de várias horas, multirepetitiva, altamente ativa, apoiada na utilização de tecnologias avançadas e num modelo de prática clínica baseada na evidência.

HN – Quais são as principais terapias e tecnologias avançadas utilizadas pelo CEN para maximizar a recuperação dos doentes?

Desde as terapias neuromoduladoras, como a estimulação magnética transcraniana, a estimulação transcraniana por corrente contínua ou a estimulação medular transcutânea, até às terapias locomotoras intensivas apoiadas na utilização de exosqueletos, sistemas dinâmicos de suporte de peso 3D, realidade aumentada e realidade virtual, sensores, terapias intensivas dos membros superiores também apoiadas na estimulação elétrica, exosqueletos, realidade virtual e terapia intensiva da fala e neuropsicologia.

HN – Como é que a pandemia de COVID-19 afetou o funcionamento do NLC e como é que o centro ultrapassou esses desafios?

Tivemos de fechar o centro durante quase dois meses e, após a abertura, tivemos de seguir protocolos rigorosos de limpeza e desinfeção, juntamente com a utilização de sistemas de proteção individual para doentes, familiares e terapeutas, que eram desconfortáveis e interferiam com o normal desempenho das terapias. Tudo isto foi ultrapassado com muita paciência, profissionalismo e boa disposição.

HN – Qual tem sido o impacto do Centro Europeu de Neurociências na comunidade de doentes com lesões no sistema nervoso central?

Os doentes têm agora acesso a um tipo de tratamento que não estava disponível anteriormente, a um preço melhor do que se tivessem de se deslocar à Suíça ou aos EUA, mas com a mesma qualidade. Os doentes e as suas famílias têm esperança de melhorar a sua funcionalidade e qualidade de vida, sob uma abordagem científica que mostra com dados e provas objetivas as melhorias dos doentes.

 HN – Como é que o CEN aborda a individualidade de cada doente e adapta os tratamentos às necessidades específicas de cada pessoa?

Ao oferecer o melhor tratamento personalizado para cada pessoa, cada paciente tem um plano de tratamento individualizado, não há dois planos de tratamento iguais. Esta abordagem baseia-se na evidência científica, na experiência dos nossos terapeutas e nas preferências específicas dos nossos pacientes, assegurando uma prática clínica baseada na melhor evidência científica.

HN – Pode destacar uma história de sucesso significativa que exemplifica a eficácia do programa de neuroreabilitação do CEN?

Há muitos casos, por exemplo, de pessoas com mais de 80 ou 90 anos que, após um AVC, são mandadas para casa sem qualquer possibilidade de reabilitação porque não acreditam que tenham capacidade para melhorar. No CEN, verificámos que a idade não é o prognóstico e devolvemos a independência a muitos destes doentes. Também os doentes com mais de 6 meses de evolução após o AVC, a quem se dizia que estavam numa fase crónica e que não iriam melhorar mais, também conseguem melhorias significativas e, para dar outro exemplo, os doentes com deficiências cognitivas e comunicativas graves, em que a terapia intensiva também consegue melhorias significativas.

HN – Qual é a visão de futuro do CEN em termos de expansão, inovação e melhoria contínua dos serviços oferecidos?

Continuamos a expandir os serviços na nossa sede em Madrid, incorporando dispositivos mais avançados e terapias mais inovadoras. Por outro lado, foi-nos proposta a criação de mais centros noutros países e estamos a trabalhar nesse sentido.

HN – Como é que o CEN integra os princípios de humanização e respeito nos seus tratamentos, não só para os doentes, mas também para as suas famílias?

Para nós, o tratamento humano dos nossos pacientes e das suas famílias está acima de tudo. Os familiares podem assistir a todas as sessões que desejarem. Temos grupos de famílias, sessões individuais com eles e ajudamo-los com toda a documentação de que necessitam. O paciente é considerado como o eixo central e fundamental da intervenção, onde as suas opiniões, motivações, preferências e aspirações determinam o tratamento efetuado. Tentamos responder a todas as suas necessidades e fazê-los sentir como parte de uma grande família.

HN – Alguma nota final?

Convidamos todos os interessados a visitar-nos no nosso centro e a conhecer em primeira mão o nosso trabalho. As nossas portas estão sempre abertas.

 

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