“A medicina tradicional é extremamente importante na Guiné-Bissau, onde as pessoas recorrem a estes ‘médicos’ tradicionais – curandeiros, djambacos, mouros, matronas, etc – primeiramente, principalmente no meio rural, mas também no meio urbano, antes de irem ao centro de saúde”, disse à Lusa um dos fundadores e diretor científico do centro de investigação NOVAFRICA, da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, Pedro Vicente.
O investigador explicou que há um problema de oferta de saúde formal, pois há falta de profissionais – como médicos e enfermeiros – e estes são mal pagos, sendo que o financiamento deste sistema está “muito dependente de doadores internacionais”.
“Temos também um forte problema do lado da procura, pois de facto as pessoas não estão habituadas a usar o sistema formal. Por exemplo, as grávidas têm os bebés nas aldeias e não são acompanhadas, assim como as crianças pequenas”, declarou.
O centro de investigação NOVAFRICA tem estado “a trabalhar com ‘médicos’ tradicionais, em conjunto com o Ministério de Saúde pública da Guiné-Bissau, na esperança de os transformar em agentes de saúde comunitária do sistema formal”, disse.
Foi feito um trabalho em que se convidaram estes agentes a participar numa formação orientada “para estabelecer uma colaboração duradoura com o sistema formal de saúde”, anunciou.
“Utilizámos dois tipos de mensagem: uma pró-negócio, que salientava as oportunidades de fortalecimento da sua atividade privada de medicina na comunidade, e outra pró-social, que sublinhava a importância de ajudar a comunidade a ter melhores indicadores de saúde”, explicou.
Concluíram que a abordagem pró-negócio “foi melhor sucedida na angariação de ‘médicos’ tradicionais para o projeto”.
Pedro Vicente salientou ter esperança que estes trabalhadores informais se juntem ao sistema formal de saúde, para melhorar a sua oferta, “juntando proximidade com melhores práticas cientificamente informadas”.
“Um sistema de saúde que não olha à importância de facto destes atores [informais] terá muito maiores dificuldades em desenvolver-se”, alertou.
Esta opinião converge com a da antiga ministra da Saúde do país Magda Robalo que, em Lisboa, em 27 de junho, durante uma conferência organizada pela NOVAFRICA, declarou que a medicina tradicional e a moderna devem ser usadas em conjunto, o que seria mais benéfico para todos.
“A divisão entre a medicina tradicional e a medicina moderna tem de ser ultrapassada. Devemos desenvolver um trabalho conjunto, explicou.
Segundo Magda Robalo, existem “práticas muito boas” em ambas as vertentes e “não se pode descartar o tradicional apenas porque a tecnologia chegou”.
LUSA/HN
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