Proteínas concebidas por IA neutralizam toxinas letais do veneno de cobra

16 de Janeiro 2025

Uma equipa de cientistas concebeu novas proteínas, com recurso à inteligência artificial (IA), que neutralizam as toxinas letais do veneno de cobra, o que pode oferecer uma alternativa mais segura e eficaz aos antídotos tradicionais.

Os detalhes da investigação, testada em experiências com ratos, foram publicados na revista Nature num artigo liderado pelo mais recente Prémio Nobel da Química, David Baker, noticiou na quarta-feira a agência Efe.

As picadas de cobras venenosas afetam entre 1,8 e 2,7 milhões de pessoas por ano, causando cerca de 100.000 mortes anualmente e três vezes mais incapacidades permanentes, incluindo a perda de membros.

De acordo com um comunicado da Universidade Técnica da Dinamarca, citando dados da Organização Mundial de Saúde, a maioria dos ferimentos ocorre em África, Ásia e América Latina, onde “sistemas de saúde fracos agravam o problema”.

Atualmente, os únicos antídotos utilizados para tratar vítimas de mordeduras de cobra são os derivados de plasma animal e são geralmente dispendiosos, têm eficácia limitada e efeitos secundários adversos.

Além disso, os venenos variam muito de uma espécie de cobra para outra, o que significa que os tratamentos devem ser personalizados, lembrou a universidade.

Nos últimos anos, no entanto, os cientistas obtiveram novos conhecimentos sobre as toxinas de cobras e desenvolveram novas formas de combater os seus efeitos, como neste novo trabalho.

A equipa liderada por David Baker, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, e Timothy Patrick Jenkins, da Universidade Técnica da Dinamarca, utilizou ferramentas de aprendizagem profunda para conceber novas proteínas que se ligam e neutralizam as toxinas mortais das cobras. Baker ganhou o Prémio Nobel de design computacional de proteínas.

A investigação em ratos centra-se nas chamadas toxinas de três dedos.

Embora as proteínas concebidas ainda não protejam contra o veneno total – que é uma mistura complexa de diferentes toxinas exclusivas de cada espécie de cobra – as moléculas geradas por IA proporcionam uma proteção total contra doses letais de toxinas de três dedos, com uma taxa de sobrevivência de ratinhos de 80-100%.

“As antitoxinas que criámos são fáceis de detetar usando apenas métodos computacionais, são baratas de produzir e robustas em testes laboratoriais”, detalhou Baker.

As novas antitoxinas podem ser feitas a partir de micróbios, o que evita a imunização tradicional com recurso a animais – os soros antiveneno atuais são feitos a partir de anticorpos gerados pelo veneno de outros animais. Os custos de produção também são reduzidos.

Outra vantagem é que as proteínas projetadas são pequenas, tanto que se espera que penetrem melhor nos tecidos e neutralizem as toxinas mais rapidamente do que os anticorpos atuais, de acordo com os autores.

E como as proteínas foram criadas inteiramente no computador, utilizando software baseado em inteligência artificial, o tempo gasto na fase de descoberta foi “drasticamente” reduzido.

lusa/HN

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