MSF denunciam que sistema de saúde foi reduzido a cinzas no norte de Gaza

12 de Fevereiro 2025

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciaram hoje que o nível de destruição do sistema de saúde no norte da Faixa de Gaza é total, sublinhando estarem chocados com as “ruínas e o cheiro de morte por todo o lado”.

“Embora o cessar-fogo em Gaza tenha sido implementado a 19 de janeiro, após 15 meses de guerra total contra as pessoas ali encurraladas, todos os componentes da sociedade foram destruídos, tornando-a quase inabitável. Na província do norte, o nível de destruição é total. Os nossos colegas palestinianos já não são capazes de reconhecer os seus próprios bairros, alguns ficaram em estado de choque, outros literalmente desmoronaram”, sublinhou a organização não-governamental, com sede em Genebra.

Num comunicado divulgado às redações, os MSF lembram que, após a entrada em vigor do cessar-fogo, as suas equipas conseguiram chegar ao norte da Faixa de Gaza, anteriormente sitiada pelas tropas israelitas, para avaliar as necessidades médicas e humanitárias e que o que viram deixou-as “chocadas”.

“Na cidade de Gaza já estávamos chocados com o nível de destruição, mas depois fomos para o norte, para Jabalia, e não conseguimos dizer uma palavra. Já não há lá nada. Apenas ruínas e o cheiro de morte por todo o lado, por causa dos cadáveres ainda presos debaixo dos escombros”, diz Caroline Seguin, coordenadora dos serviços de emergência dos MSF.

Seguin referiu que já não existe sistema de saúde na parte norte da Faixa de Gaza.

“O hospital Kamal Adwan foi destruído, enquanto os hospitais al-Shifa, al-Awda e Indonésia estão seriamente danificados e só funcionam parcialmente. As equipas dos MSF ficaram completamente chocadas ao observar que, no hospital indonésio, todas as máquinas médicas pareciam ter sido deliberadamente destruídas, esmagadas em pedaços, uma a uma, para garantir que nenhum cuidado médico pudesse ser prestado”, denuncia a coordenadora da organização.

“É preciso perguntar: qual é a motivação de tal ação? Estas máquinas são feitas para salvar a vida de pessoas, mães, pais, filhos. É devastador ver o estado destes hospitais”, lamentou.

A prestação de cuidados médicos é largamente insuficiente em comparação com as necessidades das centenas de milhares de pessoas que vivem na zona, acrescenta-se no comunicado dos MSF, que frisa que entre o norte da Faixa de Gaza e a cidade de Gaza existem apenas seis camas de cuidados intensivos pediátricos, em comparação com as 150 existentes antes da guerra, e o número de camas hospitalares para doentes desceu de 2.000 para 350.

Segundo os MSF, o fluxo de fornecimentos vitais melhorou desde o cessar-fogo, mas o nível de necessidades é tão elevado que as pessoas continuam a carecer de artigos básicos.

“A necessidade de alimentos, água, tendas e materiais de abrigo nesta zona continua a ser crítica. A escassez de água é um verdadeiro desafio, dado o elevado nível de danos causados às instalações de água e o facto de estas se encontrarem em locais inacessíveis nas zonas-tampão”, acrescentou Seguin.

“As nossas equipas iniciaram atividades de transporte de água em Jabalia e Beit Hanoun e reparam furos danificados, mas esta é uma solução temporária e não é suficiente para as enormes necessidades. Por causa da guerra, as equipas dos MSF tinham anteriormente realizado atividades no sul e agora têm de as deslocar para o norte, o que leva tempo”, acrescentou a coordenadora dos MSF.

“O clima de inverno significa que as pessoas também têm de enfrentar temperaturas muito baixas, chuvas intensas e ventos fortes. É um verdadeiro desafio quando nem sequer têm paredes à sua volta para se protegerem”, sublinhou.

Segundo Seguin, muitas pessoas querem ficar e reconstruir suas vidas e não têm intenção de partir, pelo que é essencial garantir a prestação consistente e segura de assistência humanitária a pessoas que sofreram traumas inimagináveis.

“Passadas quatro semanas desde a implementação do cessar-fogo, ainda não estamos a assistir ao aumento maciço da ajuda humanitária necessária no norte de Gaza. A comunidade humanitária não está a conseguir prestar serviços vitais a uma população que necessita urgentemente de apoio humanitário e médico. Tanto Israel como os atores internacionais têm de assegurar urgentemente a entrega de fornecimentos vitais, como abrigos e alimentos, e aumentar as capacidades para a sua distribuição”, exigiu.

NR/HN/Lusa

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