“As pessoas não vão ao Centro de Saúde só para tratarem de problemas de saúde. Vão para tratar de tudo, porque a acessibilidade é imediata. Se quiserem uma consulta de urgência, em 10 minutos têm. E há vagas todos os dias para consultas”, afirmou à agência Lusa o médico Paulo Margato.
Natural de S. Tomé e Príncipe, Paulo Margato, médico especialista em medicina geral e familiar, chegou ao Corvo há três anos, deixando o seu lugar no quadro da Unidade de Saúde de ilha de São Miguel, a maior dos Açores.
É o único clínico na ilha a tempo inteiro.
“Exercer medicina no Corvo é como mudar de família. É sermos adotados por uma outra família. É uma população extremamente acolhedora, que me acolheu há três anos e sinto-me aqui [na ilha] em casa”, confessa o médico.
O Centro de Saúde do Corvo tem dois médicos especialistas em medicina geral e familiar, mas apenas um no quadro, já que o outro clínico não está na ilha a tempo inteiro.
“Normalmente estou sozinho na ilha, mas os corvinos têm a liberdade de escolha, optando pelo segundo médico”, explica.
O Centro de Saúde tem ainda três enfermeiras, uma das quais especialista em saúde mental, e tem ainda no seu quadro de pessoal um psicólogo.
“Quando conseguirmos ter no Corvo dois médicos especialistas em medicina geral e familiar com conhecimento, com carreira na região, é um pequeno luxo naquela pérola do Atlântico”, sublinha Paulo Margato, assinalando as inúmeras dificuldades em fixar e atrair clínicos para as zonas do interior do país, para as ilhas açorianas e “até mesmo para Lisboa”.
O médico diz que tem “uma média de 15 a 20 pessoas” diariamente no Centro de Saúde, mas não apenas para tratarem questões de saúde.
“As pessoas não vêm só para tratar de questões de saúde. Vão para tratar de tudo. Para falar da família. Para desabafar, para falar sobre algo que lhes aflige, porque a acessibilidade é imediata e eles sabem que a equipa está lá”, conta à Lusa.
As histórias vividas por este profissional de saúde nos últimos anos são muitas.
“Nós é que abrimos a porta do Centro de Saúde para irmos atender o doente às quatro da manhã. Estamos disponíveis a qualquer hora do dia. O Corvo é uma família”, afirma.
Para o médico, “a confiança” que os habitantes depositam na equipa do Centro de Saúde é “muito gratificante”, salientando que existe uma grande aproximação à população, destacando que a Unidade de Saúde do Corvo assume “os cuidados de saúde da ilha de manhã à noite”.
“É isto que temos para dar aquela população. A nossa disponibilidade a qualquer hora”, vinca.
Quando o médico se ausenta, as pessoas perguntam por ele, conta o clínico à Lusa.
Paulo Margato explica que, por norma, ausenta-se da ilha entre quatro a cinco dias para visitar a família na ilha de São Miguel, mas admite que também sente “alguma ansiedade” quando está “muito tempo fora”.
“É um pouco mais do que tratar a doença, a dor. O corvino é um povo que me surpreendeu. Sinto-me em casa e esta é que é a verdade e por alguma razão mudei-me em definitivo para a ilha”, diz.
Na mais pequena ilha dos Açores todos se conhecem e vive-se “em entreajuda”, sublinha, lembrando a distância da ilha face a São Miguel, Terceira e Faial, onde existem hospitais, o que implica, por vezes, a necessidade de evacuações médicas aéreas para transporte de doentes críticos e graves.
Atualmente, o Centro de Saúde dispõe de análises clínicas e equipamentos para a realização de um rx e eletrocardiograma.
“Temos tudo o que é exigível para uma estabilização de um doente emergente e politraumatizado”, assinala Paulo Margato, que se pretende reformar no Corvo.
“É essa a minha intenção. No Corvo aprendi que 100 euros não compram nada. Temos um amigo. Temos tudo”, reforça.
NR/HN/Lusa
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