IPO Porto é o primeiro centro oncológico do país a integrar um robot cirúrgico nas suas operações

7 de Abril 2025

O Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) iniciou um programa de cirurgia robótica, com uma prostectomia radical, tornando-se o primeiro centro oncológico do país a integrar um robot cirúrgico nas suas operações, indicou hoje a instituição.

A primeira cirurgia realizada com auxílio de um robot cirúrgico, uma prostectomia radical num homem de 54 anos, aconteceu a 28 de março. Entretanto já foram realizadas pelo menos mais três: duas na área da ginecologia e uma segunda na urologia.

“Começámos com um doente com cancro na próstata. O tratamento foi a remoção da próstata e a reconstrução das vias urinárias. A utilização do robot tornou a cirurgia mais segura e mais fácil de realizar, reduzindo de forma significativa as complicações”, descreveu à Lusa o diretor de Cirurgia do IPO Porto.

Sobre cirurgias que, na estreia, são realizadas na presença de tutores, Lúcio Lara Santos contou que as vantagens passam por “poder observar de vários ângulos o objeto a operar”, garantir “mais firmeza e segurança do tratamento dos tecidos em casos mais minuciosos”, bem como conseguir “uma redução muito grande de lesão dos tecidos”.

“No caso da próstata, é importante garantir menor lesão nos nervos importantes para manter a função do aparelho urogenital. E, em geral, acreditamos que estas práticas contribuem para uma redução do tempo de internamento. Há uma retoma da função e da sua vida social e profissional mais rápida”, acrescentou.

Um tutor é um cirurgião com centenas de cirurgias robóticas naquela área.

Até aqui as cirurgias robóticas realizadas pelo IPO Porto foram assistidas por tutores portugueses. Em breve chegarão à instituição tutores de hospitais espanhóis e será dada continuidade ao programa em áreas como cirurgia esofagogástrica, retal, hepática, pancreática e torácica, entre outras.

O Programa de Cirurgia Robótica do IPO Porto insere-se numa estratégia que começou a ser desenhada há cerca de dois anos e ao abrigo deste projeto estão em formação dezenas de profissionais.

Além de cirurgiões, a equipa inclui enfermeiros, instrumentistas, circulantes, auxiliares, a equipa da esterilização, especialistas em engenharia e informáticos.

O primeiro passo foi o levantamento de todo o conhecimento científico do custo/benefício e segurança de cirurgia robótica em oncologia.

Lúcio Lara Santos contou que foi criado um grupo de cirurgiões “com bastante experiência em cirurgia oncológica e cirurgiões mais jovens que tinham um ‘background’ em cirurgia laparoscópica”.

“E constituímos as equipas que começaram a ser treinadas na cirurgia robótica”, sintetizou, acrescentando que “o primeiro investimento é caro, mas posteriormente há ganhos significativos para o doente, familiares e para a instituição”.

O robot é um dos equipamentos que o IPO Porto recebeu no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e de um programa que visa a renovação do parque tecnológico nacional.

Além deste equipamento, está prevista a instalação de câmaras Gama Digital SPECT/CT, uma ressonância magnética 1,5 Tesla, a atualização da Ressonância Magnética 3 Tesla, um angio-TAC para sala híbrida, uma tomografia computadorizada com tecnologia espetral, duas tomografias computadorizadas, bem como três aceleradores lineares.

“Este é o primeiro programa de cirurgia robótica que está a ser operacionalizado ao nível dos IPO do país. Há aqui uma visão de, num futuro não muito longínquo, podermos constituir-nos como centro de treinos de cirurgia oncológica robótica, porque o IPO Porto tem um peso muito grande no contexto nacional na resposta que é dada em cirurgia oncológica no país”, explicou o presidente do IPO Porto, Júlio Oliveira.

Segundo o responsável, “sozinho, o IPO Porto, que é o único centro em Portugal reconhecido pela Organização Europeia de Institutos de Oncologia (OECI), opera entre 12 a 13% de todos os casos cirúrgicos oncológicos do país”.

“Já está comprovado que há uma redução da morbilidade – ou seja, conseguirmos de uma forma menos invasiva tratar bem os doentes permitindo uma recuperação mais rápida – quando se utiliza esta tecnologia. Mas claro que o principal aqui é o fator humano, e depois os profissionais e o treino dos profissionais. Esperamos num futuro não muito longínquo, nos próximos meses, que se possa expandir ainda a mais doentes e ter mais médicos a fazer formação”, disse Júlio Oliveira.

Em 2024, no IPO do Porto foram feitas 11.913 cirurgias (aumento de cerca de 8% em relação ao período homólogo), com destaque para as intervenções nas patologias de digestivos (1.296), mama (1.108) e urologia (755).

lusa/HN

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