O relógio marca as 07:30. Há mais comerciantes do que clientes no Mercado da Ribeira. As bancas e as lojas estão carregadas de produtos, mas quem lá trabalha pouco tem para fazer.
Estes comerciantes dependem, sobretudo, das vendas para restaurantes e dos turistas que, antes da pandemia de covid-19, enchiam as ruas da capital.
“O mercado está assim um bocado deserto (…). Ao sábado é que há um bocado mais de movimento a nível de particulares. Diariamente nós estamos aqui sem fazer nada, sem vender, sem ter atividade” conta à Lusa Ermelinda Simões, junto à banca de marisco, onde trabalha há 30 anos com a mãe.
“A restauração abriu no dia 18 de maio, mas eles estão a trabalhar muito mal. E turistas não há”, destaca, acrescentando que o seu negócio regista quebras na ordem dos 50%.
Estas dificuldades são transversais a todos os comerciantes, independentemente do tipo de produtos que vendem.
“Isto estão tão fraco. (…) Não se vende nada” diz Maria Isabel Aparício, que tem uma banca de frutas e hortaliças no Mercado da Ribeira, um espaço municipal.
“Eu, a esta hora, fiz dois euros e pouco. Não é nada. Nem para o café deu”, realça.
Hermínio Sousa é um dos poucos clientes que se encontra a comprar algumas frutas e legumes.
Conta à Lusa que já frequenta o mercado há 50 anos: “Antes tinha um estabelecimento no Castelo de São Jorge, vinha todos os dias. Agora não tenho estabelecimento, venho [comprar] para mim e para familiares duas a três vezes semanais”.
E também ele confirma que o movimento não é semelhante ao de outros tempos.
“Noto uma diferença muito grande. Porque antes havia movimento, agora não. É um mercado deserto, infelizmente”, lamenta.
Num dos corredores que ladeiam a zona central do Mercado da Ribeira, o talho de António Silva tem a montra vazia, um sinal de que as vendas são esporádicas.
“Tenho perdido muitos clientes e muitos deles ficaram-me a dever, principalmente a restauração. Não me pagaram. Como vê, nem a carne ponho na montra. Não vale a pena porque aqui no mercado não passa ninguém”, relata, acrescentando que só alguns dos “clientes antigos” continuam a comprar.
“Isto vai acabar. Se continuar assim desta maneira, isto acaba. Não há hipóteses”, defende.
Umbelina Gonçalves, peixeira, partilha do mesmo receio. “Está muito complicado e nós estamos a ver se conseguimos aguentar, mas não sabemos até que ponto, porque provavelmente não vamos conseguir superar”.
Esta peixeira levanta-se todos os dias à meia-noite para comprar peixe e, no máximo, dorme três horas seguidas. “É uma vida complicada e de que maneira (…). Antes ainda trabalhávamos com gosto, porque se trabalhava, agora não”, frisa.
Já a sair do mercado, depois de mais uma manhã de compras, encontra-se Mário Mateus, proprietário de um restaurante na Rua dos Bacalhoeiros, empurrando um carrinho com peixe e algumas hortaliças.
“Venho todos os dias ao mercado. Venho buscar peixe, venho buscar carne, hortaliças. Praticamente um bocadinho de tudo o que se consome lá no restaurante”, diz à Lusa.
Mário Mateus admite que compra menos quantidade desde que reabriu o restaurante, destacando que é necessário “gerir as compras com as vendas, de forma a não haver desperdícios”.
Em julho, a Câmara de Lisboa aprovou uma proposta para isentar os comerciantes do pagamento das taxas de ocupação nos mercados municipais de Campo de Ourique e da Ribeira, entre 01 de março e 30 de junho.
Uns dias depois, Rodrigo Pimenta, em representação dos comerciantes dos dois mercados, pediu na Assembleia Municipal de Lisboa uma redução das rendas para metade até ao final do ano.
Na quinta-feira, a autarquia aprovou uma redução de 50% do valor de taxas e rendas até ao final do ano para os estabelecimentos que exerçam atividade em espaços municipais, incluindo-se estes dois mercados.
LUSA/HN
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