Segundo revelou hoje a administração da ULS à agência Lusa, o projeto clínico em causa é o CardioGAP+, parte de uma primeira experiência semelhante em 2021 – já então com o apoio da Câmara Municipal de São João da Madeira, mas envolvendo uma amostra de apenas 300 pessoas – e será agora alargado a mais 800 cidadãos.
O diretor do serviço de Cardiologia da ULS do EDV, Rui Baptista, disse que o objetivo é recolher a informação sistematicamente recolhida pelas equipas de Medicina do Trabalho das empresas que aderiram ao projeto para “identificar os trabalhadores com sintomas de alto risco e encaminhá-los de imediato para o hospital, numa espécie de via verde de referenciação que lhes permita começar logo uma intervenção terapêutica”.
Colesterol elevado e pressão arterial alta são dois dos sintomas mais preocupantes, mas o médico disse que, sem um acompanhamento como o proporcionado pelo CardioGAP+, a generalidade dos utentes com esses indícios recebe apenas um alerta verbal, ficando depois ao critério de cada doente pedir consulta ao médico de família ou especialista para se inteirar devidamente das suas opções terapêuticas.
“O processo tem que ser muito mais simples – para não haver tempo de o problema evoluir – e o que este projeto faz é dar resposta imediata a quem tiver fatores de risco, para se evitar, no espaço de quatro ou cinco anos, um acidente cardiovascular como enfarte, AVC, aneurisma ou morte súbita”, afirmou Rui Baptista.
Defendendo que, atualmente, “há um desfasamento enorme, um hiato gigante”, entre a identificação dos primeiros fatores de risco e o início da terapia preventiva, o cardiologista acredita que “muitos problemas graves vão ser evitados se os dados compilados nas fábricas seguirem rapidamente para o hospital”.
Nesta fase, o CardioGap+ ainda tem margem para integrar mais duas a três empresas, mas já conta com as mesmas cinco que participaram no estudo de 2021: a Cartonagem Trindade, a CEI Solutions, a Belcinto, a Heliotêxtil e a Vieira Araújo.
Uma das conclusões do primeiro trabalho foi que “a prevalência de tabagismo era muito mais incisiva em determinadas fábricas”, o que deixou evidente a necessidade de se desenvolverem “soluções estruturais” para diminuir essa tendência no contexto laboral específico das empresas assinaladas.
O presidente do conselho de administração da ULS EDV, Miguel Paiva, realçou que uma das vantagens do projeto é permitir aprofundar o conhecimento sobre a real comunidade de utentes dessa estrutura do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Sendo esta uma das zonas economicamente mais dinâmicas de Portugal, com um tecido empresarial vivo e pujante, isto acaba por ser uma forma de o SNS demonstrar que está atento às características particulares da região e procurar retribuir com cuidados de saúde de alta qualidade o contributo económico que este território dá ao país”, explicou.
Com o financiamento da farmacêutica Novartis e o apoio da Associação Comercial e Industrial de São João da Madeira, o CardioGap+ implica um investimento na ordem dos 15.000 euros e irá desenrolar-se ao longo de 2025, estando a apresentação de resultados prevista para o início de 2026.
“É, de facto, um projeto muito inovador, pois, ao envolver a autarquia como elo de ligação à comunidade, permite-nos fazer a articulação direta entre o nosso serviço de Cardiologia e os serviços de Medicina Ocupacional das empresas, identificando doentes de alto risco que, de outra forma, estariam ‘abandonados’ e com sério risco de serem vítimas de acidentes cardiovasculares potencialmente graves”, concluiu Miguel Paiva.
NR/HN/Lusa
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