Erva-das-pampas é caso de saúde pública que afeta o litoral

2 de Novembro 2024

A erva-das-pampas é uma planta que tem crescido sem controlo em espaços públicos e privados ao longo do litoral, provocando alergias e ferimentos a quem com ela interage, avisou uma investigadora especialista em infestantes.

Em declarações à agência Lusa, a bióloga Hélia Marchante, professora da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), argumentou que a erva-das-pampas está transformada numa ameaça descontrolada e num problema de saúde pública em Portugal, face à sua disseminação crescente pelo território e capacidade de provocar alergias fora de época e cortes na pele.

Com efeito, ao ser originária das pampas – as planícies da América do Sul que se estendem do sul do Brasil pelo Uruguai e Argentina –, aquela espécie vegetal, cujo nome científico é ‘cortaderia selloana’, acaba por florir e soltar as sementes, no hemisfério norte, desde meados do verão até à entrada do outono (época de primavera no hemisfério sul), podendo provocar um novo (e tardio) pico de alergias respiratórias na população portuguesa.

“Estamos perante um problema de saúde pública”, assegurou a investigadora, garantindo que “já está claro” para a comunidade científica que a planta causa alergias.

Mas não só: as suas folhas finas e compridas têm o potencial de provocar ferimentos na pele (cortes nas mãos e dedos de quem as manuseie), daí o seu nome ‘cortaderia’.

Segundo a especialista, a planta invasora é mais perigosa entre meados de agosto (início da floração) e novembro, altura em que deixa de largar sementes, maioritariamente por ação do vento, sendo o período até maio (quando começa a aparecer) o ideal para a arrancar da terra, sem o perigo de espalhar as suas sementes.

Isto porque, para ser erradicada de vez, a erva-das-pampas, que pode chegar a atingir quatro metros de altura, tem de ser retirada pela raiz, com recurso a instrumentos manuais ou maquinaria mais pesada.

Atualmente, já existem campanhas em alguns municípios a avisar a população contra a perigosidade desta espécie exótica invasora, cujo cultivo, criação, comércio, introdução na Natureza e repovoamento é proibido, segundo legislação nacional de 2019, mas cuja dispersão pela berma das estradas, ao longo da ferrovia ou, indiscriminadamente, em terrenos, campos agrícolas e no embelezamento de jardins públicos e privados parece incontrolável.

Uma campanha em curso ensina as pessoas a remover as plumas – que podem chegar a um metro de comprimento e onde se concentram milhares de minúsculas sementes que irão dar origem a outras plantas – e que são a face mais visível e atrativa da “tão bonita, mas tão perigosa” erva-das-pampas, que cresce em altura e cuja cor varia do dourado ao prateado.

Embora admita que o cidadão comum não tem meios para fazer o controlo da espécie, Hélia Marchante defendeu que as pessoas podem conter a sua disseminação.

“Um cidadão que as tenha no seu jardim ou em redor da sua casa e corte as plumas [com uma tesoura de podar, as mãos e braços protegidos e colocando-as num saco fechado no final] está a conter aqueles milhões de sementes que não se vão espalhar”, observou a especialista.

A professora da ESAC, responsável pelo “Life Coop Cortaderia” no Instituto Politécnico de Coimbra, um projeto, em curso até 2028, de educação ambiental e sensibilização de entidades para a gestão desta invasão biológica que terá chegado a Portugal há cerca de 20 anos, como planta ornamental, “e que explodiu” nessa altura na zona entre o norte do Porto e o sul de Aveiro.

As ações de educação ambiental em curso visam, essencialmente, as crianças das escolas, a quem são propostos cinco desafios de ciência cidadã, para que os mais jovens possam ficar conscientes do problema e ajudem a mudar a abordagem sobre a planta invasora.

“Temos coisas como o uso de uma aplicação para porem a erva-das-pampas no mapa, tiram uma fotografia e fica geolocalizada. Ou tirar uma fotografia todos os meses para verem como o ciclo de vida está a mudar, arranjarem campanhas dentro ou fora da escola para eles passarem o problema para a comunidade, fazer ações para controlar, ou seja, envolvê-los um bocadinho e esperar que levem isso para casa”, explicou Hélia Marchante.

O projeto em curso, que envolve a remoção da espécie em mais de mil hectares, sucede a um outro, que terminou em 2022, e através do qual os investigadores e parceiros contactaram todos os municípios portugueses sobre a perigosidade da planta, embora a receção dos alertas, por vezes, não tenha sido a melhor.

O problema não é exclusivamente português – na Europa a expansão da erva-das-pampas estende-se pelo sudoeste de França e noroeste de Espanha, até à costa portuguesa de norte para sul – tendo resultado nos projetos internacionais que envolvem, também, investigadores franceses e espanhóis.

Atualmente, segundo Hélia Marchante, o “Life Coop Cortadeira” reúne 190 entidades dos três países envolvidos, desde municípios e comunidades intermunicipais, concessionárias de autoestradas e organismos públicos e privados, onde se inclui, também, uma componente mais formal, de capacitação e formação, em que estes parceiros são convidados a aderir à estratégia de luta contra a espécie invasora.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

VP Formação distinguida como parceira Premium do OET

VP Formação alcança estatuto de Premium Preparation Partner do Occupational English Test, reconhecendo sete anos de excelência na preparação de profissionais de saúde para certificação internacional

MAIS LIDAS

Share This