Espanhóis “evaporaram-se” de Elvas e deixam comércio em risco

21 de Novembro 2020

Na cidade raiana de Elvas, os habituais clientes espanhóis "evaporaram-se" devido à pandemia da covid-19. O comércio passa por dificuldades e alguns estabelecimentos correm mesmo o risco de encerrar.

No centro histórico daquela cidade do distrito de Portalegre, Ana Augusto tenta rumar contra o pior dos cenários e, recentemente, até decidiu ampliar o negócio, mudando de instalações.

“Muito difícil [o negócio], mas se não lutamos não sabemos o dia de amanhã”, começou por afirmar à agência Lusa a empresária, sublinhando que os clientes espanhóis, frequentadores assíduos das zonas comerciais, “evaporaram-se”.

No meio de uma crise sanitária, a maioria dos comerciantes lamenta a “desinformação” que tem passado para Espanha em relação às medidas restritivas em Portugal, e no concelho de Elvas em particular, tendo essa situação prejudicado a atividade económica nos últimos tempos.

Portugal está em estado de emergência desde dia 09 deste mês, situação que foi na sexta-feira renovada até 08 de dezembro, havendo recolher obrigatório nos concelhos de risco de contágio mais elevado e municípios vizinhos.

A medida abrange 191 concelhos, mas no fim de semana passado o concelho de Elvas não constava na listagem, embora o comércio tenha sofrido prejuízos.

“No outro fim de semana disseram que em Elvas estávamos confinados e Elvas ainda não estava confinado e não se viu um espanhol”, lamentou a empresária.

Vítor Meireles é proprietário de um espaço de restauração na Praça da República e, em declarações à Lusa, confessou que a situação não está fácil devido à falta de turistas numa cidade classificada como Património Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

“As coisas não estão fáceis, mesmo a afluência de turistas, não há, o pessoal português também tem algum receio em sair e então as coisas não estão muito fáceis não”, disse.

“Muito poucos [espanhóis] e agora com esta restrição do fim de semana ainda [vai ser] pior. Vê-se muito pouco espanhol aqui na praça a passear, a beber a sua cerveja, a comer, não se vê praticamente ninguém”, acrescentou.

Abel Cortes é proprietário de três lojas de têxteis para o lar em Elvas e está neste negócio há 43 anos, dando emprego a nove pessoas. Lamenta a falta que faz ao comércio local os clientes espanhóis.

“Temos Badajoz à vista, está muito perto de nós, mas não temos espanhóis do lado de cá para fazer as compras, não só da parte da Extremadura, como de todo o resto de Espanha, porque vinham bastante e normalmente mais ao fim de semana, mas neste momento não temos mesmo ninguém”, afirmou.

O comerciante considera que a situação é “bastante difícil”, sublinhando que numa cidade do interior não é fácil gerir três casas comerciais, manter os postos de trabalho, pagar rendas, entre outras despesas mensais.

“É muito complicado gerir, mas temos esperança. A fé é a última coisa a perder”, diz.

O presidente da Associação Empresarial de Elvas, João Pires, traça também à Lusa um cenário “negro”, alertando que a pandemia tem criado um “clima de medo” nos consumidores.

“Comércio, restauração e serviços estão mal porque não há clientes. O clima de medo, de preocupação e de desconfiança é muito grande perante a pandemia e perante as pessoas”, observa.

“Eu acho que vai ser desastroso este final de ano, princípio de 2021, vai ser uma coisa em termos de saúde…mas neste caso estamos a falar em termos económicos, em termos de negócios e de vidas: vai ser desastroso”, lamenta.

Perante este cenário, o responsável acredita que dentro de poucos meses vão mesmo encerrar estabelecimentos comerciais nesta cidade alentejana.

Em Portugal, morreram 3.762 pessoas dos 249.498 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This