Novas estirpes não “têm impacto de provocar maior doença”

23 de Janeiro 2021

O virologista Pedro Simas afirmou hoje que as novas estirpes não “têm impacto de provocar maior doença”, depois de ter sido identificado o primeiro caso de covid-19 associado à variante genética da África do Sul em Portugal.

Em declarações à agência Lusa, o virologista do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa explicou que estão sempre a surgir novas variantes, desde o início da pandemia.

“Estão sempre a aparecer variantes e as variantes que predominam, em relação às outras, são aquelas que têm mais vantagem de disseminação, mais aptidão para se disseminar”, disse, adiantando que é um “processo natural”.

De acordo com o virologista, as novas variantes devem ser vigiadas e não criar pânico na sociedade, porque faz parte do processo de replicação e evolutivo do vírus SARS-CoV-2.

“[As variantes] Não têm impacto de provocar maior doença. Do ponto de vista evolutivo, não faz sentido, porque se assim fosse não tinha uma capacidade de disseminação tão rápida, seriam facilmente identificadas em termos clínicos e as pessoas isoladas sem hipótese de as disseminar”, realçou.

Para Pedro Simas, as variantes não devem ser utilizadas para tentar justificar falhas na contenção da propagação comunitária e nem usadas para “tentar incutir um sentido de insegurança nas pessoas em relação às vacinas”.

“Se uma variante como a do Reino Unido que tem uma maior vantagem de disseminação numa determinada área geográfica e é natural que ela se espalhe, porque ela domina em relação às outras, isso não quer dizer que tenha propriedades de causar doenças maiores, não quer dizer necessariamente impacto na eficácia das vacinas”, indicou.

Demonstrando preocupação, mas não alarmismo, o virologista precisou que as vacinas serão mudadas caso surja uma estirpe com “impacto significativo”.

“Não é um caso que não possamos resolver ou solucionar”, concluiu.

O primeiro caso de covid-19 associado à variante genética da África do Sul foi hoje identificado em Portugal pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), adiantou à Lusa a instituição.

O caso identificado em Portugal, através da sequenciação genómica, foi já reportado pelo INSA às autoridades de saúde, que estão já “a realizar as devidas diligências para o rápido rastreio de contactos e interrupção da potencial cadeia de transmissão”, referiu o INSA.

Segundo cientistas sul-africanos, os dados recolhidos até agora não mostraram que a nova variante do SARS-CoV-2 detetada na África do Sul, nomeada 501Y.V2, não acompanha uma maior taxa de morbilidade, embora o aumento da pressão do sistema de saúde possa estar por detrás de mais mortes.

O INSA tem vindo a desenvolver desde abril de 2020, em articulação com o Instituto Gulbenkian de Ciência e com a colaboração de mais de 65 laboratórios, hospitais e instituições de todo o País, um estudo que visa determinar os perfis mutacionais do SARS-CoV-2 para identificação e monitorização de cadeias de transmissão do novo coronavírus, bem como identificação de novas introduções do vírus em Portugal.

Portugal registou hoje o maior número de mortes (234) por covid-19 desde o início da pandemia e 13.987 novos casos de infeção, de acordo com o balanço diário da DGS.

Já morreram em Portugal 9.920 pessoas dos 609.136 casos de infeção confirmados.

A covid-19 é uma doença respiratória causada por um novo coronavírus (tipo de vírus) detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China, e que se disseminou rapidamente pelo mundo.

O número de mortes em Portugal durante 2020 foi 10,6 % maior em relação à média dos anteriores cinco anos, divulgou hoje o Instituto Nacional de Estatística, que registou 123.409 óbitos, mais 12.220 do que entre 2015 e 2019.

Em 31 de dezembro registavam-se 6.906 mortes atribuídas à covid-19, ou seja, 56% do excesso de mortalidade de 2020 em relação à média 2015-2019.

LUSA/HN

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