O inquérito, realizado pelo grupo de investigação em Geografia da Saúde da Universidade de Coimbra, conclui que as pessoas que tiveram que passar o período de confinamento em alojamentos com más ou muito más condições de habitação sentiram-se mais ansiosas, deprimidas e com pior sono, afirmou à agência Lusa a coordenadora do estudo, Paula Santana.
Até ao momento, participaram no inquérito 1.681 residentes em Portugal: 41% vivem numa cidade grande, 39% numa vila ou pequena cidade e 19% em zonas rurais.
A qualidade da habitação é boa ou muito boa apenas para 25% dos inquiridos.
“Os resultados sugerem que quem vive em habitações com maior isolamento acústico e térmico, com varandas ou espaço exterior (jardim ou quintal) ou tem na proximidade da residência oportunidade de utilizar um espaço público (verde ou azul – frente de rio ou mar), estava melhor preparada para os ‘desafios’ do confinamento, revelando valores percentuais mais baixos de ansiedade”, salienta a professora catedrática da Universidade de Coimbra.
De acordo com os resultados preliminares do estudo, 25% dos inquiridos cuja habitação apresenta más ou muito más condições sentiram-se “muito enclausurados”, 35% apresentaram elevados níveis de ansiedade e 40% reportaram que dormiram pior, sendo os níveis todos inferiores para quem referia viver numa habitação com condições boas ou muito boas.
A falta de acesso a um espaço verde na área da residência também parece contribuir para aumentar o sentimento de enclausuramento, nota o estudo.
Nas cidades grandes, “menos de 20% das pessoas que têm acesso a uma área verde perto de casa sentiram-se muito enclausuradas, mas mais de 30% das que não têm acesso sentiram-se assim”.
“Em relação à alimentação, cerca de 25% dos que vivem numa habitação com condições más ou muito más reportou ter uma alimentação pior, contra cerca de 16% dos que vivem numa habitação com condições boas ou muito boas”, referiu a investigadora.
Dos inquiridos, cerca de um terço deixou de praticar atividade física, sendo que os que mais reduziram a atividade física “são os que têm piores condições de habitação”, salientou.
Segundo Paula Santana, os resultados preliminares não revelam “grandes diferenças” entre o espaço rural e o meio urbano na forma como as pessoas estão a viver a pandemia, “quando se deixa de ter em conta a qualidade da habitação”.
O estudo está a ser realizado no âmbito de um inquérito internacional, disponível em 13 línguas (https://surveys.uc.pt/index.php/992535?lang=pt), sendo que o grupo de investigação aguarda agora resposta a uma candidatura a financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, para fazer um ‘follow up’ junto dos inquiridos nacionais.
Os resultados preliminares dizem respeito ao inquérito realizado entre 15 de abril e 15 de maio, sobre o impacto da covid-19 na família e na comunidade.
LUSA/HN
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