Porto Mosquito é uma comunidade piscatória no concelho da Ribeira Grande de Santiago, com pouco mais de mil habitantes, e que dista a 20 quilómetros, cerca de 30 minutos de carro, da cidade da Praia.
Para lá chegar, primeiro percorre-se 12 quilómetros por uma estrada asfaltada da Praia até à Cidade Velha, único sítio património mundial do país, e depois segue-se por uma estrada calcetada, sempre paralelo ao mar e a pequenos montes e entre alguma vegetação.
Localidade pacata, com pequenas casas, moradores sentados à soleira das portas, os botes perfilados na pequena praia de calhaus rolados e o cheiro a mar e peixe dão as boas vindas aos visitantes.
Como localidade piscatória, a vida flui praticamente à volta das duas pequenas praias, em que apenas uma conserva alguma areia negra, servindo de parque de diversão para a criançada e onde todos se juntam para ajudar os botes a chegar à terra em segurança.
O peixe não falta em Porto Mosquito, mas hoje não é como antigamente, disse Manuel Moreira, mais conhecido por ‘Ramilo’, que é o responsável da zona, um fiscalizador e o ponto focal com as autoridades municipais e nacionais.
Carpinteiro de botes, Ramilo Moreira é também um dos cerca de 300 pescadores e é ainda proprietário de um dos cerca de 60 botes de boca aberta da localidade.
“Vivi sempre da pesca”, sublinhou o morador e porta-voz de Porto Mosquito. “Aqui vivemos basicamente da pesca. Se não há peixe, as nossas vidas são sempre complicadas”, comentou ‘Ramilo’ à agência Lusa, dizendo que a pesca já teve melhorias dias na localidade.
Para agravar a situação, disse, os pescadores têm falta de isca. “Saímos para o mar, mas são só despesas, gasto de gasolina e não conseguimos nada. Alguns pescadores conseguem alguma coisa, mas não compensa no meio de tantos botes aqui”, disse, apontando em direção às embarcações perfiladas na praia maior.
Em nome de todos os pescadores da localidade, ‘Ramilo’ Moreira pediu ajuda ao Governo, salientando que se trata de uma das classes que menos apoio tem das autoridades e cujos problemas se agravaram agora com as restrições impostas por causa da pandemia de covid-19.
“Aqui fomos beneficiados com cesta básica, mas não é suficiente, e os produtos que vêm no cesto dependem do número de pessoas em cada família”, disse o pescador à Lusa, que, além de isca, pediu ajuda para comprar e/ou arranjar os motores, bem como emprego em outros setores de atividade.
“Sabemos que não há emprego em nenhum lugar, mas precisamos de alguma coisa para desenrascarmos. Quando o mar não está para peixe, pelo menos entra alguma coisa em casa”, mostrou.
“Temos saudades dos peixes, não há peixe e muitos botes atracados aqui é por causa da falta de peixe. Mas esperamos ter nos próximos dias, porque o tempo está bom”, previu este homem do mar, de 58 anos, pai de 13 filhos, e todos os quatro homens também são pescadores.
Ainda durante o mês de julho, com a queda das primeiras chuvas, ‘Ramilo’ Moreira disse ter esperança que Deus vai “abrir a boca” dos peixes para morderem a isca.
“Não temos outra alternativa a não ser a pesca. Que Deus abra a boca dos peixe, nos mande chuva, isca, e as coisas podem melhorar, para não dependermos do Governo para tudo”, disse.
Porto Mosquito ainda não registou nenhum caso positivo de covid-19, mas, mesmo assim, ‘Ramilo’ Moreira aconselhou os moradores a se prevenirem, com uso de máscara, lavagem frequente das mãos, uso de álcool gel e distanciamento físico, algo que não é respeitado nas praias de botes.
“Já está em algumas zonas mais perto de nós e pedimos a Deus que não chegue aqui. Temos que prevenir”, pediu, dizendo que assim que a doença terminar, cada um sai para o seu lado à procura de sustento.
Desde março, em que foi detetado o primeiro caso de covid-19 em Cabo Verde, disse ‘Ramilo’ Moreira, a vida não tem sido fácil em Porto Mosquito, mas mostrou estar esperançoso que todos vão recuperar dos efeitos nefastos da doença.
“Não temos outro trabalho. A nossa vida é pesca, mas estamos confortados, porque sabemos que a doença entra com facilidade nas pessoas, mas é difícil sair”, afirmou, sublinhado que o melhor remédio é prevenir porque ainda não há vacina para a covid-19.
Cabo Verde regista, até ao momento, 2.014 casos positivos de infeção pelo novo coronavírus, que causou 21 mortes, sendo a ilha de Santiago o principal foco da doença no arquipélago.
LUSA/HN
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