Relatório revela que jovens se sentiram menos ansiosos e mais conectados à escola durante o isolamento

25 de Agosto 2020

Adolescentes mais jovens no Sudoeste de Inglaterra sentiram-se menos ansiosos e mais ligados à escola quando estiveram afastados durante o isolamento publico derivado da pandemia global de Covid-19, descobriu um estudo pioneiro.

Os resultados chocantes da investigação liderada pela Universidade de Bristol estão publicados pelo Instituto Nacional para a Escola de Investigação de Saúde da Investigação Pública de Saúde (NIHR SPHR) num relatório que levanta questões sobre o impacto do ambiente escolar na saúde mental e pede mais apoio para ajudar os alunos quando regressarem às salas de aulas.

Mais de metade (54%) das raparigas de 13 a 14 anos questionadas em outubro mostraram que estavam em risco de ansiedade, comparado com cerca de um quarto (26%) dos rapazes da mesma idade. Quando questionados novamente em maio, durante a pandemia que forçou escolas a fechar e colocou restrições sem precedentes na vida das pessoas, os números baixaram em aproximadamente 10% entre raparigas para menos me metade (45%) e para menos de um quinto (18%).

“Com todo o mundo à beira de uma pandemia devastadora, que colocou a vida de toda a gente em ‘águas de bacalhau’, a expetativa natural seria de ver um aumento na ansiedade”, disse a principal autora Emily Widnall, investigadora sénior em Ciências da Saúde Populacional na Escola Médica da Universidade de Bristol. “Enquanto vimos os níveis de ansiedade a aumentar para alguns dos nossos participantes, foi uma grande surpresa descobrirmos que para muitos deles passava-se praticamente o oposto. De interesse particular, aqueles estudantes que se sentiam menos ligados à escola antes do isolamento viram um decréscimo ainda mais elevado na ansiedade que levanta questões sobre como o ambiente escolar afeta o bem-estar mental de alguns adolescentes mais novos”.

Os níveis de depressão mantiveram-se consistentes ao longo do tempo, com um decréscimo de 2% dos rapazes em risco de depressão e um aumento de 3% no risco de depressão para as raparigas. “Isto foi um ganho que não esperávamos e que discutivelmente mostra a resiliência dos mais novos e a sua habilidade de se adaptarem a situações desafiantes”, disse Widnall.

“Entre outras preocupações salientadas sobre a saúde mental dos mais novos ser negativamente afetada, estas são notícias que recebemos de bom grado, mas que ao mesmo tempo levantam questões interessantes sobre quais são os principais gatilhos para a ansiedade e depressão neste grupo de idades em particular”.

O sentimento de bem-estar de muitos estudantes também melhorou durante o isolamento, com os rapazes a demonstrarem uma melhoria superior às raparigas. Aqueles com os mais baixos níveis de bem-estar antes da pandemia beneficiaram mais, com os seus resultados a aumentar até 14% quando comparados com o aumento naqueles com bem-estar médio a elevado.

“O estudo fornece um olhar único sobre a forma como estes adolescentes se sentem sem as pressões diárias da vida escolar. Por exemplo, do sucesso académico e das relações com os colegas nas suas vidas”, disse Widnall.

Apesar de não marcarem presença física, rapazes e raparigas ambos relataram uma ligação mais forte à escola durante o isolamento, com aumentos marcados no número de estudantes que disseram ter a oportunidade de falar com os seus professores.

“Esta foi outra descoberta surpreendente. É de imaginar que ficar afastado da escola deveria fazer-nos sentir mais distantes e menos conectados. Vai ser interessante para as investigações seguintes explorarem as razões pelas quais os jovens reportaram sentir-se mais ligados à escola, mas uma possível explicação podem ser as novas maneiras que os professores encontraram para interagir com os estudantes através das plataformas digitais, que, claro, já são dominadas pelos jovens”, explicou Widnall.

Os resultados dos questionários mostraram que uma ansiedade reduzida e um bem-estar melhorado coincidiam com uma utilização significativamente superior das redes sociais entre raparigas. O maio crescimento foi visto durante a semana, quando mais de metade das raparigas (55%) reportou gastar um excesso de três horas diárias nas redes sociais durante o isolamento.

“Isto desafia a perceção comum de que as redes sociais têm um impactam negativamente a saúde mental dos mais jovens. As estatísticas para raparigas dentro deste questionário sugerem que estes canasi podem desempenhar um papel importante em ajudar os adolescentes a criar laços, a sentirem-se mais ligados e em contacto, especialmente durante um período de isolamento físico”, disse Widnall. “Os correspondentes, especialmente as raparigas, também relataram utilizar as redes sociais como uma ferramenta para aprender, em vez de ser só para navegar na net e conversar com os amigos”.

O questionário envolveu mais de mil estudantes do nono ano de 17 escolas secundárias espalhadas pelo Sudoeste de Inglaterra. Com base nas conclusões, o relatório faz recomendações de políticas que incluem a priorização da saúde mental e bem-estar dos estudantes, juntamente com o acompanhamento do trabalho académico e considerar maneiras de prevenir o aumento da ansiedade de volta aos níveis antes da pandemia.

A Dra. Judi Kidger, autora sénior e professora de Saúde Pública na Universidade de Bristol diz que “as conclusões levantam questões sobre o papel do ambiente escolar na explicação do aumento das dificuldades de saúde mental entre adolescentes nos anos recentes. Enquanto as escolas reabrem, temos de considerar maneiras de tornar as escolas numa maior ajuda à saúde mental dos estudantes”.

“Com crianças e jovens fora das salas de aulas há tanto tempo, e com muitos estudantes deste estudo a verem melhorias na sua saúde mental e bem-estar durante este tempo, o caso para nos debruçarmos sobre a questão da sua qualidade de vida na escola é mais forte que nunca”

LUSA/HN

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