Novos tratamentos da insuficiência cardíaca prometem reduzir mortalidade

17 de Setembro 2020

Investigadores da Faculdade de Medicina do Porto anunciaram hoje que os ensaios clínicos de dois novos tratamentos demonstraram “um impacto positivo no tratamento da insuficiência cardíaca”, reduzindo a mortalidade e os internamentos.

Os resultados foram apurados no decorrer de ensaios clínicos realizados a nível internacional, com a colaboração de uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), do CINTESIS e do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).

O primeiro novo tratamento diz respeito “à utilização de ARNis – inibidores de neprisilina e dos recetores da angiotensina”, um grupo de medicamentos já conhecido.

A eficácia da utilização deste tipo de medicamentos na insuficiência cardíaca foi aferida num ensaio clínico que comparou a sua ação com um dos medicamentos convencionalmente utilizados nestes doentes.

O estudo incluiu 8.442 pacientes com mais de 18 anos (média de idade de 64 anos). Todos sofriam de insuficiência cardíaca e o tempo médio de seguimento foi de 27 meses.

Segundo os investigadores, os resultados do ensaio foram “significativos”.

De acordo com José Silva Cardoso, cardiologista e investigador da FMUP, responsável pela coordenação da parte do ensaio que decorreu em Portugal, “os ARNis mostraram-se superiores ao medicamento convencional, reduzindo o risco de morte cardiovascular ou hospitalizações por insuficiência cardíaca em 20%”.

Outros estudos, como o DAPA-HF e o EMPEROR-Reduced, avaliaram a eficácia de outro medicamento na redução da mortalidade e hospitalizações nesta patologia, que todos os anos mata duas a três vezes mais pessoas em Portugal do que o cancro da mama ou do cólon.

Esta classe de medicamentos era já conhecida e usada no tratamento de pacientes diabéticos (os inibidores do cotransportador sódio-glicose).

Os resultados destes trabalhos foram publicados no New England Journal of Medicine durante o último ano e debatidos também no último Congresso Europeu da Cardiologia, assim como noutros meios especializados.

“Percebemos que estes medicamentos reduzem a mortalidade e os internamentos por insuficiência cardíaca”, podendo ser utilizados com sucesso no seu tratamento, mesmo quando o paciente não tem um quadro clínico de diabetes, explica José Silva Cardoso.

A equipa da FMUP e do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalizar Universitário de São João participou também em ensaios clínicos dedicados ao estudo da eficácia destes fármacos sobre a capacidade funcional dos doentes com Insuficiência Cardíaca – os Ensaios EMPERIAL-Reduced e EMPERIAL-Preserved. Estes resultados estão ainda em publicação.

Até aos anos 80, 75% dos pacientes com insuficiência cardíaca morriam no espaço de cinco anos após os primeiros sintomas, que consistem habitualmente de queixas de falta de ar, cansaço e/ou edemas (pés inchados).

Nas últimas décadas, registaram-se progressos que permitiram reduzir esta taxa para 50%.

“Ainda é muito pouco. Há ainda muito a fazer. Os resultados destas investigações mostram-nos que há outros caminhos que devemos explorar na prática clínica, para benefício dos doentes”, sublinha, em comunicado, o investigador português.

Defende, por isso, que “a investigação científica nesta área não pode parar”,

“Estamos a falar de uma doença que atinge em Portugal mais de 400 mil pessoas, sendo fortemente incapacitante e causando uma grande deterioração da qualidade de vida. É a primeira causa de internamentos acima dos 65 anos”, descreveu.

Adicionalmente, em Portugal, esta patologia representa 3,4% dos custos anuais em saúde.

Estes novos tratamentos e os resultados da investigação mais recente sobre insuficiência cardíaca vão ser apresentados aos médicos portugueses e discutidos em detalhe, sexta-feira e sábado, no âmbito das reuniões científicas anuais “Advances in Heart Failure” organizada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

A reunião deste ano contará com mais de quarenta peritos em insuficiência cardíaca nacionais e internacionais e decorrerá online.

LUSA/HN

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