“Nós ficámos surpreendidos com o facto de a senhora ministra [da Saúde] ter anunciado que iria ser pago o trabalho extraordinário aos médicos – e ainda bem que vai ser pago porque, de facto, têm estado a fazer trabalho extraordinário -, mas nada dizer relativamente aos enfermeiros e aos outros grupos profissionais” dessas Unidades de Saúde Pública, disse à agência Lusa Guadalupe Simões, dirigente do SEP.
A ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou na sexta-feira, que os médicos de saúde pública vão receber o pagamento das horas extraordinárias que fizeram desde março ou as que vierem a fazer no âmbito da resposta à Covid-19.
Marta Temido adiantou que já homologou “um parecer da Procuradoria-Geral da República”, que dá luz verde ao pagamento de todo o trabalho suplementar que foi ou venha a ser realizado por estes médicos, para além das 200 horas de trabalho efetuadas fora do seu normal horário de trabalho”.
O SEP refere que já é atribuído aos médicos um suplemento de 800 euros pela sua disponibilidade permanente, enquanto nenhum dos restantes profissionais recebe qualquer suplemento, e agora é feito este anúncio sem referência aos outros profissionais “sem os quais não era possível dar as respostas que se exige àquelas unidades”.
Para o sindicato, “esta discriminação só não foi ainda ultrapassada porque o Governo não aceitou alterar a atual forma de pagamento para o regime de prevenção de toda a equipa de saúde pública”.
Segundo Guadalupe Simões, a maioria das 27 Unidades de Saúde Pública que existem no país a funcionar desde março, recorrendo a trabalho extraordinário”, não está a pagar essas horas extras.
Estas unidades funcionam em regra de segunda a sexta, entre as 09:00 e as 17:00, mas têm que dar resposta após aquela hora, aos fins de semana e feriados, caso exista alguma situação que assim o determine.
Em março, o Governo decretou que este ano poderiam ser ultrapassados os limites de horas previstos na lei. “De qualquer forma, importa dizer que há anos a esta parte os enfermeiros fazem muito mais horas extraordinárias do que os limites previstos na lei e, tal como temos vindo a denunciar, muitas dessas horas nem sequer são pagas como trabalho extraordinário”, salientou.
Esta situação é “fruto da carência estrutural de enfermeiros” que existe e que “se agudizou” durante a pandemia, até pela situação de doença em que muitos dos enfermeiros, neste momento, se encontram”.
“Seja por estarem infetados com Covid-19, seja por estarem em isolamento profilático, seja por outras doenças, o que sabemos é que há instituições com níveis de absentismo altíssimo e que também decorre muito da exaustão em que os profissionais estão”, disse Guadalupe Simões.
LUSA/HN
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