“Os últimos 30 anos foram excecionais em África: as economias cresceram pela primeira vez em termos reais, pela primeira vez foi o continente com o maior e mais rápido crescimento económico e pela primeira vez as mortes de crianças ou por HIV/Sida, tuberculose e malária reduziram-se ao ritmo mais rápido da história”, afirmou Donald Kaberuka.
“A Covid-19 fez-nos recuar 30 anos e minou as nossas ambições futuras”, acrescentou.
O enviado especial da União Africana, que preside também ao Fundo Global de Luta contra a Sida, Tuberculose e Malária, falava hoje, a partir de Kigali, no Ruanda, no Fórum Brasil/África 2020, iniciativa do Instituto Brasil África, que decorre ‘online’ hoje e quarta-feira.
Para este economista ruandês, uma das lições a retirar desta pandemia tem a ver com o facto de “agora ser possível ver mais claramente a ligação entre a economia e os investimentos em saúde”.
“Deve ser uma oportunidade para aumentar o nosso investimento no setor da saúde, não apenas colocando dinheiro, mas gastando-o melhor, porque esta não será a última pandemia”, salientou.
Kaberuka referiu ainda que o fecho de fronteiras e a proibição de viagens internacionais, os confinamentos e outras medidas tomadas pelos países africanos para lutar contra a Covid-19 num continente em que os sistemas de saúde são frágeis “salvaram vidas”, mas tiveram “um custo económico enorme a curto prazo”.
“Este ano as economias africanas encolherão 20 mil milhões de dólares e a recuperação será muito complicada, especialmente com a cooperação internacional muito limitada”, sustentou.
Donald Kaberuka, que é um dos quatro enviados especiais nomeados pela UA para mobilizar a comunidade internacional para o apoio à economia dos países africanos, apontou ainda falhas na resposta dos países ricos à pandemia de Covid-19.
“Na última década, o mundo assistiu a dois grandes choques que foram tratados de forma muito diferente pelo G20 [grupo das 20 maiores economias mundiais]”, defendeu Kaberuka, sublinhando que a gestão da crise financeira de 2009 foi “muito competente”.
Por outro lado, considerou, a resposta à pandemia de Covid-19 foi “muito diferente”.
“Ao contrário de 2009, desta vez o G20 não se chegou à mesa com o vigor e a ambição de há 10 anos. A resposta foi sobretudo nacionalista e protecionista e, por isso, a motivação para trabalhar em conjunto perdeu-se”, considerou Kaberuka.
Por isso, acrescentou, a pandemia permitiu ver “mais claramente o que significam as fraquezas da cooperação multilateral perante uma pandemia”.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 1,2 milhões de mortos e mais de 46,9 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
LUSA/HN
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