Politécnico de Leiria estuda impacto social da pandemia em lares

20 de Novembro 2020

O ciTechCare – Centro de Inovação em Tecnologias e Cuidados de Saúde do Politécnico de Leiria obteve financiamento para estudar o impacto social da infeção por covid-19 nos lares, cujos resultados deverão ser conhecidos em maio de 2021.

O projeto “O impacto social da Prevenção e Controlo de Infeção nas estruturas residenciais para idosos durante a crise de Covid-19”, desenvolvido pela investigadora do ciTechCare, Sónia Gonçalves Pereira, investigadora do Politécnico de Leiria, e pela estudante de doutoramento, Catarina dos Santos Marques, vai receber um financiamento de 25 mil euros do Observatório Social da Fundação “la Caixa”.

Segundo explicou a investigadora à Lusa, o “estudo baseia-se na realização de um inquérito aos diversos intervenientes das estruturas residenciais para idosos [ERPI], desde a organização, à prestação direta de serviços e aos clientes (os idosos e suas famílias)”.

Como o próprio título indica, o foco do trabalho destina-se a avaliar o impacto social das medidas de prevenção e controlo de infeção na organização, prestação de cuidados e nos idosos e suas famílias”.

“Por razões óbvias, será feito à distância, com o apoio da Segurança Social de Leiria, que irá fazer chegar a informação e incentivar a participação das ERPI nas suas diversas valências. Os resultados sairão em maio de 2021”, revelou Sónia Gonçalves Pereira.

A cientista sublinhou que as “medidas de prevenção e controlo de infeção são essenciais para prevenir a transmissão de patogénicos, mas impõem um grande grau de confinamento, o qual poderá ter um impacto social substancial”.

Antes da covid-19, aquelas medidas, disse Sónia Gonçalves Pereira, eram apenas restritas às unidades de saúde, e não em todas as suas valências.

“De um momento para o outro, transbordaram para toda a sociedade, impreparada para as mesmas, como ainda hoje verificamos repetidamente. Perceber o impacto que as mesmas têm na sociedade, a vários níveis, é muito pertinente”, acrescentou.

Sónia Gonçalves Pereira revelou ainda que o projeto surgiu depois da formação que liderou, em julho, nas ERPI, resultado de um trabalho conjunto dos grupos Saúde e Social do Gabinete Económico e Social da Região de Leiria, “que identificaram essa necessidade, razão também pela qual este projeto, já não ligado ao GES, tem a colaboração da Segurança Social”.

“Nesse trabalho apercebi-me das dificuldades de quem, num contexto em que todos nós nos fechámos em casa, teve de continuar a prestar cuidados aos idosos das ERPI, sem formação específica prévia, sem saberem se ‘estava certo ou errado’”, avançou, ao referir que houve funcionários que “passaram a dormir lá para minimizar riscos para os idosos”.

A investigadora revelou também que durante a intervenção se apercebeu que os “muitos idosos acharam que tinham sido abandonados pelas famílias ou que os filhos deixaram de gostar deles”.

“Houve tanta variedade de impactos que sofreram… Daí o foco ser na nossa população mais nobre. Aqueles que nos sustentaram e trouxeram até aqui enquanto sociedade, e, por isso, merecem agora o nosso máximo esforço para os proteger, em todos os aspetos do que é ser humano”, adiantou

O projeto vai permitir “demonstrar cientificamente quais impactos e quais são mais relevantes”.

“Este estudo pode abrir novos caminhos para se aprofundar o impacto social das medidas e, dessa forma, serem definidas algumas ações com o propósito de mitigar as consequências do confinamento. Esse é um dos pilares da ciência, construir conhecimento válido para poder ser aplicado em prol da sociedade”, conclui Sónia Gonçalves Pereira.

Portugal contabiliza pelo menos 3.762 mortos associados à covid-19 em 249.498 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

LUSA/HN

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