“Opiniões atentas lamentam, há muito, o risco de um nivelamento nos ‘jornais fotocópia’, nos noticiários de rádio e televisão e páginas da internet que são substancialmente iguais, em que o género de investigação e da reportagem perdem espaço”, alertou o papa numa mensagem para o 55.º Dia Mundial das Comunicações, 16 de maio.
Em sua opinião, os meios de comunicação oferecem mais espaço para a “informação pronta” e cada vez menos são capazes de intercetar “a verdade das coisas e a vida concreta das pessoas” ou de “recolher os fenómenos sociais mais graves”.
“A crise do setor editorial pode levar a informações construídas nas redações, na frente do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair para a rua, sem ‘gastar as solas dos sapatos’, sem encontrar pessoas em busca de histórias”, alertou, parafraseando o jornalista espanhol Manuel Lozano Garrido, falecido em 1971 e beatificado em 2010.
Diante desse cenário, Francisco agradeceu a coragem de tantos que têm “a capacidade de ir aonde ninguém vai” para mostrar a realidade.
Só assim, disse, se pode conhecer “as difíceis condições das minorias perseguidas em várias partes do mundo” ou os abusos e injustiças contra os pobres ou o meio ambiente.
Isso é especialmente importante durante a pandemia de coronavírus e na distribuição de vacinas e medicamentos, porque existe o risco de ser contado “pelos olhos do mundo mais rico”, ignorando os países mais pobres.
“Quem nos falará da esperança de cura dos povos mais pobres da Ásia, América Latina e África? Assim, as diferenças sociais e económicas em nível planetário correm o risco de marcar a ordem da distribuição das vacinas contra a covid-19″, alertou.
Mas a devastação económica da pandemia também atingiu os países “mais afortunados”, onde o drama das famílias que caíram na pobreza está “em grande parte escondido”.
Francisco apreciou o contributo da Internet, que permite multiplicar a capacidade de contar e partilhar a história e de oferecer informação “em primeira mão e oportuna”, especialmente útil em tempos de emergência.
No entanto, alertou para “os riscos da falta de controlo da comunicação social”.
“Nós descobrimos, há muito tempo, como notícias e imagens são fáceis de manipular, por milhares de motivos, às vezes apenas por um narcisismo banal. Essa consciência crítica empurra não para demonizar o instrumento, mas para uma maior capacidade de discernimento e um senso de responsabilidade mais maduro”, afirmou.
“Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que juntos podemos exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos somos chamados a ser testemunhas da verdade: ir, ver e compartilhar”, indicou.
O papa salientou ainda que “na comunicação nada pode substituir completamente o facto de ver em pessoa”, já que “algumas coisas só se aprendem com a experiência: não se comunica, de facto, apenas com palavras, mas com os olhos, com o tom da voz, com os gestos”.
LUSA/HN
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