“Essencialmente corremos o risco de perder uma geração inteira de adolescentes e crianças que efetivamente podem abandonar a escola neste contexto [de pandemia]. Por isto, temos trabalhado fortemente para uma discussão sobre uma reabertura segura das escolas”, defendeu Dutra em entrevista à Lusa.
Desde janeiro, escolas públicas e privadas em diversos estados do Brasil iniciaram gradualmente uma retoma do ensino presencial, interrompido no primeiro semestre do ano passado devido à pandemia de Covid-19, que já deixou cerca de 240 mil mortes e pelo menos 9,8 milhões de infetados no país.
Um relatório da Unicef no mês passado mostrou que em outubro de 2020 pelo menos 3,8% das crianças e dos adolescentes brasileiros com idade de 6 a 17 anos (1,38 milhões) não frequentavam mais a escola fazendo atividades remotas ou presencialmente.
O dado é superior à média nacional de evasão escolar registada em 2019, que foi de 2%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão responsável pelas estatísticas do Governo brasileiro.
Além disso, 11,2% dos estudantes que diziam estar frequentando a escola no país não haviam recebido nenhuma atividade escolar para fazer em casa e não estavam em férias (o que equivale a cerca de 4,12 milhões de alunos).
Ao todo, a Unicef estimou que mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso à educação no Brasil em 2020.
Fazendo uma comparação com dados do último censo populacional realizado pelo IBGE, em 2010, quando o país tinha 3,8 milhões de crianças e adolescentes fora da escola, os dados registados durante a pandemia indicam que houve um grande retrocesso.
O relatório da agência das Nações Unidas, que a priori deveria conter apenas os indicadores usados para medir o fracasso escolar (como reprovação, abandono escolar e distorção idade/série) sobre o ano de 2019, acabou incluindo dados sobre o impacto da crise sanitária na vida dos alunos em 2020.
Estes problemas foram mais frequentes entre estudantes negros, indígenas e mulatos, que vivem nas regiões norte e nordeste do país.
“Ficou claro que a mesma população que era mais fortemente atingida por esta cultura de fracasso escolar, com múltiplas reprovações, com alto risco de abandono, teve sua situação agravada com a pandemia e o fechamento das escolas para a implementação de atividades remotas”, em 2020, frisou Dutra.
O chefe de Educação da Unicef no Brasil também lembrou, ao fazer a defesa do regresso das aulas presenciais num dos países mais afetados pela pandemia de Covid-19, que a escola tem uma contribuição clara e objetiva para a segurança alimentar dos estudantes brasileiros assim como para a saúde mental desta parcela da população.
“Defendemos como a OMS [Organização Mundial da Saúde] que as escolas sejam os últimos lugares a fechar e os primeiros a reabrir nesta condição de emergência haja visto o impacto que elas têm no desenvolvimento, na aprendizagem, na segurança alimentar e saúde mental das crianças e adolescentes”, salientou o dirigente da Unicef.
Dados colhidos em 2018 pelo IBGE apontaram que 26% das escolas do Brasil não têm abastecimento de água e quase metade (49%) não tem acesso à rede pública de esgoto.
Além disso, 39% das escolas do Brasil não dispõem de estrutura para que os alunos possam lavar as mãos, ato de higiene essencial no combate à infeção.
Ciente deste e de outros problemas, Dutra admitiu que as escolas públicas do país têm problemas graves de infraestruturas que precisam ser superados, mas isto não significa que tenham de ficar fechadas em 2021.
“Entendemos que não vamos resolver os problemas estruturais das escolas, do ponto de vista da infraestrutura, como o acesso a água e ao saneamento. Também sabemos que existem soluções intermediárias, de curto prazo, que podem ser trabalhadas no sentido de olhar para cada escola para encontrar soluções [para a reabertura] que devem ser construídas em conjunto com a comunidade”, concluiu Ítalo Dutra.
Lusa/HN
0 Comments