“Muita da organização hospitalar nesta pandemia resultou não de diretivas que vieram superiores, não tivemos assim tantas com substância (…). Mais cedo ou mais tarde, toda a gente se foi adaptando e reinventando”, disse o responsável, sublinhando que isso fez com que os médicos ganhassem mais autonomia.
“Mostraram que, com as condições que tinham e que criaram, foram capazes de contribuir para uma resposta que podia ter sido, apesar de tudo, mais deficitária (…). Esta autonomia foi algo que acabou por ter de acontecer e devia ser preservada”, defendeu.
José Poças frisou que os profissionais de saúde estão “muito cansados de trabalhar, como nunca”, mas dispostos a enfrentar mais uma batalha: a de ajudar a recuperar a atividade nos doentes não covid.
“Temos de o fazer. Se vai haver uma diretiva regional, nacional ou local, homogénea para a especialidade A B ou C, ou se vamos estar entregues a nós próprios, isso não sei, cabe ao poder central dizer como é que vai fazer”, afirmou.
Defendeu também que os médicos, por pressão da sua missão, “que é resolver o problema enquanto houver doentes e doenças”, “vão voltar” a assumir a dianteira.
“Vamos fazer isso, com ou sem orientação, nem que seja por serviços, por especialidade, será de alguma forma”, disse o responsável, defendendo que, contudo, desejaria que houvesse “algo que permitisse que quem está mais deficitário pudesse socorrer-se de quem está mais aliviado”, dando o exemplo da maior taxa de esforço exigida na terceira onda da pandemia aos hospitais da periferia.
E não só: “Por exemplo, há um grande equívoco relativamente à doença oncológica”.
“Houve uma altura em que se dizia que os doentes podiam ir para os IPO [hospitais não covid], mas os IPO [institutos portugueses de oncologia] já têm demasiadas listas de espera e, apesar de serem muito grandes e trabalharem muito, a grande maioria da doença oncológica a nível nacional não é tratada nos IPO”, afirmou o especialista, sublinhando a importância de os hospitais trabalharem sempre em rede, ajudando-se uns aos outros.
Sobre a necessidade de “carregar no acelerador” para recuperar dos atrasos, respondeu: “Tenho certeza de que vai ocorrer, mesmo se não houver diretivas superiores. Cada hospital, cada serviço, cada diretor de serviço, cada especialidade vai encontrar a melhor resposta possível”.
“Sou favorável a que haja autonomia, mas também sou favorável a que haja diretrizes gerais”, sublinhou, lembrando que “a realidade hospitalar é tudo menos homogénea” e que alguns cuidados de que os doentes precisam, se não existem numa unidade hospitalar, devem encontrar resposta noutro hospital.
Sobre o que correu mal, José Poças defendeu que o que aconteceu foi consequência “de se pretender, ao limite do possível, conjugar a saúde com economia”.
“Toda a gente percebe que esse esforço tinha de ser feito. Simplesmente, a partir de determinada altura, consoante o contexto, temos um desequilíbrio manifesto num dos componentes [saúde]. Neste caso, temos de ir rapidamente e antecipar o cenário, pois não há economia sem saúde, nem saúde sem economia”.
Disse também que alguns erros, já assumidos, tiveram “consequências graves”, que não foi “por falta de aviso” e defendeu que se deveriam ter feito as previsões sempre sobre “o pior dos cenários”.
LUSA/HN
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