Desde o início da pandemia, em março de 2020, “basicamente, em todas as unidades, o trabalho acrescido, e não foi pouco, prende-se com a vigilância ‘Trace-covid’ e a prestação de cuidados em ADR [Áreas Dedicadas aos Doentes Respiratórios]”, disse à agência Lusa a diretora do Agrupamento de Centros de Saúde (Aces) Oeste -Norte, Ana Pisco.
“A tónica da nossa experiência, neste período, é que deixou de haver fins de semana e horas pós laborais, sentido do descanso” e “toda a gente leva trabalho para casa, toda a gente trabalha ou tem que dar algum apoio durante o fim de semana”, acrescentou a responsável pelo Aces, que abrange os Centros de Saúde das Caldas da Rainha, Alcobaça, Peniche, Bombarral, Óbidos e Nazaré, contando com 192 mil utentes inscritos, dos quais 180 mil são frequentadores.
No início da pandemia, na área do Aces, foram implementados ADR em Alcobaça, Caldas da Rainha, Peniche (durante a ocorrência de um surto no hospital local), Bombarral e Nazaré, estes dois últimos desativados em junho.
Nestes centros destinados à avaliação clínica de doentes com suspeita de infeção respiratória aguda foram assistidos, até ao início desta semana, 11.164 pessoas, afirmou Ana Pisco, sublinhando que, a partir de dezembro de 2020, chegaram a estar “cinco médicos escalados só para Caldas da Rainha”, retirando assim profissionais às respetivas unidades.
Apesar da sobrecarga de trabalho para os profissionais dos centros de saúde, nas unidades do Aces foram realizadas, em 2020, 607.769 consultas, o que representa um decréscimo de cerca de 10 %.
De acordo com os dados disponibilizados pela diretora, o Planeamento Familiar “foi o que registou um maior decréscimo (33%), por se tratar de uma área menos prioritária”, seguido do rastreio oncológico (20%), Hipertensão (15%), saúde materna (12%) e a diabetes (7%).
Já no que respeita ao Plano Nacional de Vacinação “foram feitas mais inoculações em 2020 do que em 2019”, afirmou Ana Pisco, sublinhando que com exceção da vacina contra a tosse convulsa (92%) todo as outras vacinas “mantiveram taxas acima dos 95%”.
Resultados assistenciais conseguidos, no entender de Ana Pisco, pelo “voluntarismo” dos profissionais dos centros de saúde ao longo de um ano em que foi preciso “lidar com muitas plataformas de dados, muitas delas não amigáveis entre si” e com a pressão de “várias instituições a solicitarem informação, por vezes trabalhada de formas diferentes por diversas fontes e necessitam de ser trabalhadas”.
Para a diretora do Aces não restam dúvidas de que, nos centros de saúde, “nada voltará a ser como antes de janeiro de 2020”.
É necessário “retirar ensinamentos [desta pandemia] e organizarmo-nos para que os sistemas sejam mais efetivos” definindo planos de gestão “a 10 anos, com uma rota definida e sem mudar regras a meio do jogo”, defendeu.
E sobretudo, sublinhou, “é preciso que a medicina geral e familiar se possa voltar a centrar no utente” e que os centros de saúde possuam retomar atividades de educação para a saúde e as consultas que a pandemia obrigou a suspender, como a higiene oral, medicina dentária, cessação tabágica, alcoologia, psicologia e exames de espirometria.
LUSA/HN
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