Em entrevista ao jornal Público, divulgada hoje, o chefe de Governo destacou que o certificado digital covid-19 permite “estabilizar os critérios de circulação dentro da União”, mas ressalvou que “a própria regulamentação prevê que qualquer Estado pode recorrer a uma espécie de travão de mão para situações específicas”.
“Não há um problema de crispação”, salientou na entrevista, em que fez um balanço da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, concluída no passado dia 30 de junho.
Apontando que “a Alemanha, por razões várias, tem tido uma política particularmente restritiva e cautelosa na gestão da pandemia, umas vezes com razão, outras sem ela”, António Costa considerou que a atitude alemã “pode ser apenas uma dúvida sobre a aplicação de regras novas” que os países estão “todos a aprender a aplicar”.
Por isso, indicou, não valoriza “em excesso” esta situação.
Na entrevista, o primeiro-ministro (que se encontra em isolamento profilático) explicou também que os dados “da sequenciação genómica apontavam para que a entrada da variante Delta em Portugal não se tinha dado a partir dos contactos com o Reino Unido, mas por contacto direto com população que provinha da região do Indostão”.
De acordo com Costa, “não por voos diretos para Portugal”, mas “através de outros países da Europa e de outros sítios”.
O primeiro-ministro indicou também que “não é por acaso que o litoral sul português, o litoral sul e leste da Espanha são as zonas com maior intensidade”, apontando que “há nessas regiões uma grande densidade da população com origem na região do Indostão, que trabalha na agricultura e também no turismo”.
António Costa disse ainda que falou com a chanceler alemã, Angela Merkel, e que tentou “convencê-la da pouca gravidade” da situação portuguesa.
“Só estive a esclarecê-la sobre causalidade. Ficou claro pela incidência geográfica da nova variante e da subida dos casos, sobretudo na região de Lisboa, que nada tinha a ver com a final da Champions no Porto”, salientou.
A Alemanha classificou Portugal como uma zona com “variantes de preocupação” no que toca à pandemia, nomeadamente devido à propagação da estirpe Delta, que na prática resulta numa proibição de viagens em vigor desde a semana passada devido à ativação do mecanismo travão da União Europeia para fazer face a situações preocupantes.
Aquele país apenas permite que viajem de Portugal cidadãos alemães ou quem resida naquele país, que ainda assim têm de ser submetidos a uma quarentena de 14 dias após a chegada.
A Comissão Europeia considerou que a interdição a viagens não essenciais para Portugal adotada pela Alemanha não está “totalmente alinhada” com o recomendado por Bruxelas e fonte do executivo comunitário disse à Lusa que seria analisado se a medida “é proporcional”.
A interdição alemã às viagens de Portugal é a única proibição na União Europeia quando entra em vigor o certificado digital covid-19.
Já na quinta-feira, a Alemanha admitiu um desagravamento da avaliação de Portugal, atualmente na “lista vermelha” de viagens por ser uma “zona de variantes” do SARS-CoV-2, devido à também expectável progressão da variante Delta no território alemão.
LUSA/HN
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