Para jovens indecisos sobre a vacinação, mudar a comunicação é o melhor remédio

10 de Julho 2021

A indecisão de alguns jovens relativamente à vacinação contra a covid-19 tem merecido a preocupação das autoridades, mas para dois especialistas o remédio mais eficaz passa por melhorar a comunicação e aproximá-la dessa faixa etária.

Por esta altura, a espera está quase a terminar para os mais jovens, mas, como também aconteceu noutras faixas etárias, nem todos estão ansiosos por arregaçar a manga e receber a primeira dose da vacina contra o vírus SARS-CoV-2.

De acordo com um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, divulgado no final de junho, 85,7% dos jovens entre os 16 e os 25 pretendem ser vacinado, mas 14,3% ainda não tinha, decidido.

Isto não significa que na “hora H” recusem a vacina, mas o número criou preocupação na opinião pública, nas autoridades de saúde e nos decisores políticos, que começaram a discutir possíveis formas de incentivar a adesão desta faixa etária.

“Nesta fase, é muito relevante não só que toda a gente seja vacinada, mas que toda a gente queira ser vacinada, confiando que isso é o melhor”, sublinhou o psicólogo Tiago Pereira, que coordena o Gabinete de Crise covid-19 da Ordem dos Psicólogos, ouvido pela agência Lusa.

Para o especialista, é fundamental que os jovens compreendam e aceitem a importância e os benefícios de serem vacinados, para si mesmos e para a sociedade em geral, e que essa mensagem seja transmitida de forma positiva, sem criar a ideia de uma espécie de obrigação.

E foi precisamente esse elemento – a comunicação – que Patrícia Hilário, investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sublinhou como central para ajudar a resolver quaisquer indecisões neste grupo.

“Penso que a estratégia mais eficaz passa pela transmissão de informação, sobretudo nas redes sociais, para transmitir uma informação que vá ao encontro dos jovens”, considerou a socióloga, que é uma das coordenadoras nacionais do projeto “VAX-TRUST” que estuda a hesitação vacinal na Europa.

No entender da investigadora, até agora a comunicação sobre o plano de vacinação parece ainda não ter conseguido aproximar-se desta faixa etária e o primeiro passo para evitar a hesitação passa por aí.

“É preciso tornar a comunicação clara, simples e acessível, e aqui as redes sociais têm um papel muito importante”, concordou Tiago Pereira, acrescentando, por outro lado, a importância de validar os receios dos jovens e de passar uma mensagem empática e positiva, que também contribua para reforçar a confiança, ao invés de um discurso negativo.

Além da confiança, um dos “três grandes cês” que associa ao processo de vacinação, o psicólogo explica que a complacência é outro dos pontos aos quais é importante responder, fazendo ver aos jovens que a sua vacinação importa para o combate à pandemia da covid-19, que não afeta só os mais velhos, e para o seu próprio bem-estar.

“Quando querermos promover a adesão a determinado comportamento, temos de o tornar muito conveniente e a verdade é que o sistema de vacinação, que está muito bem montado, não foi um sistema essencialmente montado para a população mais jovem”, acrescentou em referência ao terceiro ‘C’, considerando que na sua generalidade, da comunicação à logística, o plano de vacinação está desaproximado dos jovens.

Ainda assim, e sendo verdade que na generalidade das vacinas a hesitação vacinal tende a ser mais frequente entre os jovens adultos com maior literacia, Patrícia Hilário e Tiago Pereira referem também que, para já, o problema que se coloca não vai além das intenções.

“Acho que devemos aguardar com serenidade e confiar nas autoridades de saúde. Tenho segurança que se irá desenvolver bem todo este processo, não é algo novo e não é algo que nos deva alarmar. É apenas algo a que devemos estar vigilantes”, relativizou a socióloga.

E estas intenções, com as estratégias certas, podem mudar até chegar a hora de decidir.

Para isso, acrescenta Tiago Pereira, é preciso que as pessoas tenham a capacidade de mudar o comportamento, que tenham uma motivação para o fazer e que a oportunidade para isso seja criada.

A vacinação de maiores de 18 anos começou no início de julho, com o auto-agendamento também em contagem decrescente e já próximo dessa idade. A partir do final de agosto, o Governo estima que chegue a vez dos mais novos.

Para o coordenador da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19, não será necessário qualquer incentivo para os levar a vacinarem-se, por considerar que os jovens são responsáveis, uma confiança partilhada também pelo vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, que coordenada da ‘Task-Force’ para a vacinação.

Entretanto, na quarta-feira a Liga Portuguesa de Futebol Profissional lançou uma iniciativa, feita em parceira com o Governo e a ‘Task-Force’ para a vacinação, dirigida às faixas etárias mais novas, recorrendo a diversos elementos de comunicação (imagens e vídeo) de apelo à participação em processos de vacinação e testagem contra a covid-19.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This