A iniciativa internacional de promoção de sistemas alimentares saudáveis procura ideias inovadoras para prevenir a obesidade entre as pessoas mais vulneráveis e os melhores projetos serão premiados com mais de 83 mil euros cada.
Depois de ter sido lançado em fevereiro deste ano a nível mundial, o desafio recebeu centenas de candidaturas de todo o mundo para incentivar a criação de soluções inovadoras. À fase final passaram 10 projetos, três deles portugueses: ‘Honest Ads’, ‘In My Backyard’e ‘Food from the Block’.
O ‘Honest Ads’ pretende combater a tendência que a publicidade tem de promover alimentos para crianças que nem sempre são saudáveis, com 15 vídeos ao estilo de anúncio publicitário, mas que prometem contar a verdade sobre, por exemplo, as bebidas açucaradas ou o açúcar escondido noutros alimentos, ajudando a encontrar alternativas saudáveis.
“O excesso de açúcar na dieta infantil é um problema grande. Tem melhorado, mas de qualquer modo há ainda cerca 30% de crianças com excesso de peso”, disse à agência Lusa Luis Carvalho, da unidade de prevenção do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), responsável pelo projeto ‘Honest Ads’.
Contrariar o que se vê na publicidade alimentar para crianças, desenvolvendo anúncios semelhantes aos da publicidade, “subvertendo algumas mensagens e mostrando que há algumas verdades escondidas” é o objetivo deste projeto.
Para avançar com o projeto a equipa foi falar com pais e com especialistas (pediatras e nutricionistas.
“Quisemos perceber como os pais alimentam os filhos, quais as dificuldades, o que lhes dão… e percebemos que há uma janela de oportunidade para estas intervenções: quando as crianças começam a comer a mesma comida que os pais”, explicou Luis Carvalho.
Para promover igualmente uma alimentação mais saudável, aproveitando um projeto inicial de caracterização dos quintais da região da foz do rio Neiva, entre Esposende e Viana do Castelo, surgiu o segundo finalista português: In My Backyard.
“O Healthy Food Challenge pareceu-nos uma forma interessante para fazer crescer um projeto que desenvolvemos focado na poluição nos quintais, no uso de pesticidas e fertilizantes e nas práticas sustentáveis de agricultura em casa”, contou à agência Lusa Rui Monteiro, da Associação Rio Neiva, que trabalha na área da educação ambiental e desporto-natureza.
O responsável explicou que este projeto, que pretende chegar a cerca de 50 quintais da região, quer abarcar desde a manutenção dos quintais ao cuidado com o meio ambiente, passando também pela alimentação, através dos alimentos plantados pelas famílias.
“No fundo, [os quintais] podem influenciar paisagem, a biodiversidade dos ecossistemas – se têm mais ou menos espécies invasoras ou animais -, têm impactos nos rendimentos das pessoas e, logo, no seu bem estar, e também influenciam o ponto central: a alimentação”, afirmou.
O objetivo é ter quintais saudáveis, desde a plantação à confeção dos alimentos.
“Pretendemos também fazer uma recolha de receitas por parte dos participantes, em vídeo, e gostaríamos que quem participasse apresentasse receita tradicional da sua zona, já com acompanhamento de nutricionista, para garantia e equilíbrio nutricional. Depois, queremos ainda organizar feiras de trocas entre participantes (sementes, couves que colheram, compotas)”, explicou Rui Monteiro.
Os responsáveis pelo projeto vão também elaborar um ‘kit’ sustentável de introdução aos quintais, com plantas nativas, e ter jovens a estagiar em quintais de seniores.
Trabalhar com a comunidade para que as pessoas encontrem um menu que reflita a história do lugar e, à volta desse menu, abrir o bairro para que outros se sentem à mesa e provem o bairro. É este o objetivo Food from the Block.
“As próprias comunidades é que nos vão dizer que tipo de intervenção precisam. (…) Queremos ser esse veículo, começar a mudar os hábitos de alimentação das pessoas, mas de uma forma que não seja intrusiva”, explicou à Lusa Alice Artur, da organização Joy, um dos parceiros da associação Locals, que promove a iniciativa e acredita que “é possível tornar a comida numa linguagem, emocional”.
“Adianta muito pouco ter um discurso pré-formatado sobre o que deveria ser a alimentação enquanto as pessoas não voltarem para as cozinhas e a comer em conjunto”, acrescentou a responsável.
Gonçalo Folgado, da Locals, explicou à Lusa que o projeto vai desenvolver-se em Lisboa, em três bairros ‘bip-zip’ (Zonas de Intervenção Prioritária), que são 67 territórios que concentram 25% da população da capital.
O Food from the Block incide sobre o bairro 2 de Maio (zona ocidental), um dos ‘bip-zip’ da freguesia de S. Vicente e em Marvila, onde a organização Locals já tem trabalho desenvolvido com diversos parceiros. Tudo será filmado, num projeto que dará origem a um documentário.
“A ideia é co-construir este menu a partir das historias e memória locais, para que haja uma participação tangível das pessoas que se transforme em jantares ou almoços que vão reforçar o processo de abertura destes territórios”, disse Gonçalo Folgado.
Dos 10 finalistas sairão as três ideias mais inovadoras, que serão selecionadas entre 01 e 15 de outubro. Cada uma receberá até 100.000 dólares (87.000 euros).
LUSA/HN
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