“Esta é uma das grandes fragilidades que a APAV ainda sente na região: o facto de não existir uma estrutura específica para acolher essas vítimas com mais de 65 anos”, afirmou, em declarações à agência Lusa e à Antena 1 Açores, à margem do seminário “Vítimas Especialmente Vulneráveis: que desafios?”, que decorre hoje em Ponta Delgada.
A responsável pela APAV nos Açores considerou que as estruturas existentes “estão pensadas para vítimas até aos 65 anos”, porque, a partir dessa idade, as pessoas “são encaminhadas para lares”.
“Uma vítima que quer e precisa de ser acolhida no âmbito de uma situação de crime não pediu para ir para um lar, que tem características completamente diferente das de uma casa abrigo ou de um centro de acolhimento”, afirmou.
Referindo o exemplo dos crimes de violência doméstica, Sofia Branco afirmou que existem muitas vítimas que necessitam de abrigo, mas que “encontram algumas barreiras em razão da idade”.
“[A resposta] faz muitas vezes a diferença entre pedir ajuda e recuar, avançar com um processo-crime ou recuar. Se estamos a falar de um crime de violência doméstica, sendo um crime público não é possível desistir do processo, mas é possível não prestar declarações”, apontou.
A dirigente disse existirem “cada vez mais” vítimas idosas e avançou que em 2020 a APAV acompanhou 35 pessoas com mais de 65 anos.
“No ano passado, num universo de 50 pessoas que acompanhamos, aproximadamente 35 eram vítimas com mais de 65 anos. Estamos a falar acima de tudo de vítimas cujos agressores são os filhos ou filhas”, revelou.
Ressalvando que a “pandemia não pode servir de desculpa para tudo”, Sofia Branco revelou que o fenómeno de violência familiar aumentou no último ano devido ao regresso de filhos para a casa dos pais, motivado por “dificuldades económicas”.
“Quando estamos a falar de vítimas de maus-tratos psicológicos, mais dificilmente reconhecem que estão perante uma situação de crime”, apontou.
Na sessão de abertura do Seminário, o presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, disse ser necessário “criar na cultura dos Açores” o “entendimento civilizacional” de que a violência é “intolerável”.
“Uma parte dessa violência é, infelizmente, sibilina porque muitas vezes os hábitos culturais permitem tolerância de um passado relativamente ao qual queremos virar a página, de modo a que, da tolerância, se passe à intolerância e à não-aceitação desses maus hábitos”, afirmou.
Dirigindo-se ao presidente da APAV, João Lázaro, também presente na sessão, o líder do executivo açoriano assegurou a “vontade colaborativa” do governo para “potenciar” a “capacidade instalada” da associação nos Açores.
“É, pois, um desafio de médio longo prazo de progresso e de atitude do que propriamente apenas um exercício de comunicação e de papel”, concluiu.
LUSA/HN
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