“Recandidato-me, no fundo, porque boa parte do meu programa inicial do partido acabei por não implementá-lo na totalidade. O partido precisa, em primeiro lugar de casar as gerações (…) e ao mesmo tempo é preciso abrir o partido para as gerações mais novas”, disse Jorge Bom Jesus, que concorre ao segundo mandato na liderança do MLSTP/PSD.
Bom Jesus admitiu que “houve muitas coisas boas, mas há outras coisas que correram menos bem”, tendo em conta os impactos da covid-19 e a consequente crise financeira nos últimos três anos da sua liderança, mas assegurou que tirou ilações no sentido de poder “corrigir” o que não correu bem, principalmente “a proximidade junto ao eleitorado que reclama a presença dos dirigentes”.
“Se me recandidato é porque acredito que posso fazer melhor. Nós apreendemos também com os nossos erros”, afirmou.
Contrariamente a 2018, quando foi candidato único à liderança do MLSTP/PSD, desta vez Bom Jesus terá dois adversários, um dos vice-presidentes do partido e governador do Banco Central, Américo Barros, e o ex-presidente do partido e antigo primeiro-ministro Rafael Branco.
“Curiosamente há quatro anos atrás são candidatos que estavam ao meu lado, e como eu digo alguma coisa falhou para que isso pudesse acontecer, porque o ideal seria estarmos todos juntos num ano especial [de eleições legislativas, autárquicas e regionais]”, admitiu Jorge Bom Jesus.
O atual líder acredita que pelo “facto de ser ao mesmo tempo presidente do partido e primeiro-ministro por inerência de funções” estará em melhores condições de fazer a articulação entre o Governo e o partido, “contrariamente a qualquer presidente do partido que não seja ao mesmo tempo primeiro-ministro”.
“O mais importante não é ganhar o congresso, não é ganhar a direção do MLSTP. Para mim o mais importante, e eu só estou nisso por causa deste objetivo maior, do interesse superior do MLSTP/PSD, que são as próximas eleições [legislativas, autárquicas e regionais], e eu ainda sou, além de dirigente do partido, primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe e não posso furtar-me das minhas responsabilidades”, afirmou Bom Jesus.
O candidato Rafael Branco, que foi presidente do MLSTP/PSD e primeiro-ministro entre 2008 a 2010, considerou que a atual direção liderada por Jorge Bom Jesus cometeu vários erros, começando em 2018 quando conseguiu melhorar o resultado eleitoral e teve a possibilidade de formar governo.
“O resultado eleitoral do MLSTP não foi só com os votos dos nossos militantes. Muitos cidadãos, de outros partidos, sem partidos, participaram desse movimento da democracia e quando chegamos ao poder pensamos que só nós é que tínhamos ganho as eleições, e desde a composição do Governo e algumas políticas que foram adotadas, foram no sentido de que vamos governar só para os nossos”, explicou Branco.
O segundo erro, acrescentou, foi “uma direção do partido que se transferiu toda para o Governo” e “e o partido ficou abandonado”.
Rafael Branco afirmou que “nunca se fez tanta reunião do MLSTP como se fez nos últimos dois meses”, sendo que os militantes do partido “ficaram de fora das grandes decisões”.
O ex-presidente do MLSTP/PSD quer voltar a liderar com uma proposta “para dar voz aos militantes”, considerando que “sem os militantes o MLSTP é zero, é nada”, por isso nem mesmo “o recurso a algumas práticas pouco recomendáveis colmata isso”.
“Temos que ser absolutamente rigorosos no combate a corrupção (…) mesmo num processo como este, que é um congresso partidário, nós vemos sinais de práticas irregulares, ilícitas, onde queremos utilizar poderes que temos no momento para influenciar as pessoas – alguns – ou onde queremos utilizar o dinheiro que temos para influenciar as pessoas, isso não são soluções sustentáveis”, denunciou.
Além disso, admitiu desvantagem perante o primeiro-ministro e o governador do Banco Central, “num país como São Tomé e Príncipe onde a administração pública tem o peso que tem” e “o acesso a algumas funções depende da vontade de quem tem o poder”.
“Eu não me resigno a isso. Eu vou para estas eleições sereno, sabendo que é muito difícil combater dois poderes – poder de autoridade do Estado e da administração, e o poder de quem tem os recursos”, precisou.
Para o candidato, o partido deve “ter um novo relacionamento com os outros partidos” procurando “construir maiorias sólidas, mas sobretudo, em vez de juntar partidos para distribuir tachos”, unir-se para “encontrar soluções viáveis, sustentáveis no tempo” para resolver os problemas do país.
A Lusa tentou contactar o candidato Américo Barros, mas sem sucesso.
O Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe foi o segundo partido mais votado nas legislativas de 2018, com 23 deputados, mas conseguiu formar o Governo através de uma aliança parlamentar e governativa com a coligação PCD-MDFM-UDD, com cinco deputados.
O congresso eletivo de sábado, a partir das 10:00 locais (mesma hora em Lisboa), terá a participação de 600 delegados de todos os distritos de São Tomé e os representantes da ilha do Príncipe.
LUSA/HN
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