Amnistia quer que resposta a crise do Sri Lanka dê prioridade a direitos humanos

5 de Outubro 2022

A Amnistia Internacional defendeu hoje que a resposta à grave crise económica que o Sri Lanka enfrenta tem de proteger também os direitos humanos das pessoas, lembrando que o país está à beira da fome e da pobreza profunda

Num relatório hoje divulgado, intitulado “Estamos quase em colapso total”, a organização internacional de defesa dos direitos humanos alerta as autoridades do Sri Lanka e a comunidade internacional para o “impacto catastrófico da crise nos direitos económicos e sociais da população”.

“Nos últimos meses, a população do Sri Lanka enfrenta uma grave escassez de alimentos e luta para ter acesso à saúde, enquanto a inflação altíssima exacerba os padrões de desigualdade já existentes”, refere a Amnistia Internacional (AI), no documento hoje divulgado.

É preciso “agir rapidamente para mitigar o custo que a crise está a ter nos direitos humanos”, defendeu a investigadora de direitos económicos, sociais e culturais da AI, Sanhita Ambast.

No relatório apontam-se medidas de recuperação que os líderes do Sri Lanka e a comunidade internacional devem adotar para salvaguardar os direitos humanos nas respostas à situação, defendendo que “a ajuda humanitária internacional deve ser reforçada, assim como garantida uma proteção social e consideradas opções para o alívio da dívida, incluindo o seu cancelamento”.

Depois de dezenas de entrevistas a pessoas de todos os espetros da sociedade do Sri Lanka, realizadas entre junho e setembro, a Amnistia considera que a escassez de medicamentos e equipamentos essenciais para salvar vidas é a principal preocupação à medida que a crise económica se aprofunda.

“Desde escassez de gaze, antibióticos intravenosos e insulina a pedidos de reutilização de cateteres ou tubos endotraqueais, os últimos meses trouxeram desafios chocantes ao sistema de saúde do Sri Lanka”, refere a organização.

Segundo o relatório, um profissional de saúde contou à equipa da Amnistia Internacional que há enfermeiras a tirar sangue sem luvas por falta de equipamento e apesar dos riscos, quer para a profissional quer para o paciente.

“Em alguns casos, as pessoas que precisavam de produtos de saúde foram aconselhadas a comprar medicamentos ou equipamentos em farmácias privadas, porque os hospitais públicos não têm”, referiu.

Por outro lado, a escassez de combustível “também tornou o transporte indisponível ou extremamente caro, dificultando ou impossibilitando o acesso das pessoas aos serviços de saúde”, adianta a AI, acrescentando que a situação “também afetou os profissionais de saúde e as ambulâncias”.

O país enfrenta também um grande aumento de preços, impulsionado pela inflação, e uma redução dos rendimentos familiares, o que significa que as pessoas estão cada vez mais incapazes de atender às suas necessidades alimentares básicas.

A crise económica do Sri Lanka deve-se não só a políticas governamentais adotadas ao longo de várias décadas, mas também à pandemia de Covid-19, que afetou seriamente a economia do país ao eliminar fontes vitais de receita, como o turismo.

Em março de 2022, o Governo ficou sem moeda estrangeira, necessária para importar bens essenciais como combustível e medicamentos, o que contribuiu para o aumento das taxas de inflação, dos preços de bens essenciais, para o racionamento de eletricidade e para a existência de longas filas para comprar combustível.

Em maio, o Sri Lanka deixou, pela primeira vez, de conseguir pagar a sua dívida nacional.

À medida que a situação piorava, milhares de manifestantes foram para as ruas, pedindo que o Governo assumisse a responsabilidade pela crise, mas as autoridades responderam duramente e com violência.

NR/HN/LUSA

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