Em declarações à agência Lusa, Pedro Sá Couto, cirurgião geral do CHUSJ, explicou que “esta técnica não faz a remoção da tiroide, mas destrói o nódulo tiroideu” e que o objetivo é explorar esta abordagem no tratamento de “casos selecionados de patologia maligna”.
“Em centros mais desenvolvidos, nomeadamente na Coreia do Sul, já se faz em alguns doentes que têm patologia maligna e em que o risco cirúrgico é muito alto. Acho que vamos crescer para aí. É um objetivo. Operamos cerca de 500 tiroides por ano, muitas delas com patologia maligna, e há situações em que esta técnica vai ter lugar como complemento a todo o outro arsenal terapêutico que temos”, descreveu o clínico.
Em causa está uma técnica de abordagem aos nódulos da tiroide através de radiofrequência, sem recurso a cirurgia.
O procedimento consiste num sistema composto por uma agulha que é colocada no interior do nódulo tiroideu, com apoio de ecografia e apenas com anestesia local.
A agulha gera calor para vaporizar o nódulo, destruindo-o, ou seja conseguindo a regressão ou desaparecimento deste, enquanto o utente se mantém acordado durante o procedimento.
Pedro Sá Couto destacou que esta técnica é “particularmente oportuna para utentes que apresentam altos riscos cirúrgicos”, nomeadamente doentes mais velhos com bócios [doença nodular] grandes que têm patologia cardíaca, respiratória ou são hipocoagulados, por exemplo.
“Esta técnica permite um controlo da sintomatologia”, sintetizou o cirurgião.
Destacando que o procedimento é feito com anestesia local, logo com o doente “acordado e colaborante”, o médico falou das vantagens de procedimentos realizados em regime de ambulatório.
“Depois de algumas horas os doentes vão para casa. Se evoluirmos para aí [maior número de procedimentos em ambulatório], mudamos o paradigma da organização hospitalar. É muito mais confortável para a pessoa, bem como para a estrutura hospitalar porque permite concentrar os recursos em situações mais complexas”, referiu.
De acordo com Pedro Sá Couto, esta técnica que é feita há quase 20 anos principalmente no Oriente e começa a dar passos no mundo Ocidental, foi já consagrada pela Associação Europeia de Tiroide.
O CHUSJ pretende introduzi-la na rotina de procedimentos nesta área, tendo tratado o primeiro doente com recurso a esta técnica em dezembro.
Pedro Sá Couro, que teve o primeiro contacto com a técnica num congresso internacional em 2018 e depois a viu ao vivo em Turim, na Itália, estima chegar ao tratamento de 30/40 utentes até ao final deste ano.
“A origem na Coreia do Sul tem a ver com a cultura dos orientais que não gostam nada de ser operados e procuraram opções que não impliquem incisão ou cicatriz. Neste momento, este número acompanha as necessidades, mas o que se prevê é que cada vez mais os doentes comecem a pedir. Estamos a falar de uma alternativa à cirurgia. Acho que é uma técnica que vai crescer em termos de indicação”, acrescentou.
Descrevendo-a como “mais uma arma terapêutica”, o cirurgião geral lembrou que no CHUSJ, onde existe uma unidade de biopsias aspirativas, há “muito treino e conhecimento” no uso da ecografia na patologia nodular da tiroide.
NR/HN/Lusa
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