Tendo em conta os dados hoje divulgados, que se basearam nas informações recolhidas pelos países que participaram no estudo Health Behaviour School-Aged Children (HBSC), incluindo Portugal, a OMS defende a alocação de recursos específicos para “desenvolver respostas para raparigas e adolescentes mais velhos” e refletir sobre as suas necessidades em planos de resposta para futuras pandemias.
“Há cada vez mais esta ideia de esbater as diferenças de género (…), mas o facto é que as raparigas são diferentes dos rapazes.”, disse à Lusa Tânia Gaspar, coordenadora do estudo HBSC em Portugal.
A responsável sublinha ainda uma das conclusões a que chegou: “As coisas que influenciam a saúde mental das raparigas são muito mais do que as dos rapazes e isso torna a intervenção ainda mais complexa”.
“Enquanto nos rapazes há dois ou três pontos que são fundamentais (…), na rapariga temos imensas coisas”, explica.
E acrescenta: “Temos a escola, temos a literacia, o emprego da mãe, temos mais estratégias de gestão de stress, temos o gostar da escola, e isto implica que, para fazermos as raparigas felizes, temos de intervir em mais coisas”.
Os dados hoje divulgados indicam que entre 15% e 30% dos adolescentes reportaram que a pandemia teve impacto negativo nas suas vidas.
Enquanto o impacto negativo está mais associado à saúde mental, exercício físico e desempenho escolar (expectativas futuras), os efeitos benéficos estão mais relacionados com a família: “Temos de trabalhar as famílias, porque isto vai ter logo um impacto enorme sobre os miúdos, e, a seguir, os professores”, defende Tânia Gaspar.
A responsável sublinha ainda que os professores funcionaram como “a segunda fonte como suporte social para o impacto positivo na pandemia” e exemplifica: “Aqueles miúdos que tiveram melhor suporte dos professores não tiveram tanto dano e sentiram menos pressão”.
O trabalho, que reuniu informações de 22 países, mostra que, em relação à saúde mental e bem-estar, cerca de 17% a 38% dos jovens reportam impacto negativo e que os adolescentes de famílias com estatuto socioeconómico mais baixo foram mais afetados do que os que têm melhores condições socioeconómicas.
O estudo mostra igualmente que os adolescentes que referem que a pandemia teve impacto negativo no seu desempenho académico e nas relações com a família e amigos também referem menos saúde mental e mais sintomas psicológicos.
A pandemia teve impacto negativo no desempenho académico de um em cada quatro adolescentes e cerca de metade dos jovens sentiram pressão com a escola, que foi maior quanto mais tempo as escolas estiveram fechadas.
Durante a pandemia, houve países em que a escola não fechou nenhum dia, como a Finlândia. O país onde a escola fechou mais dias foi Itália (341 dias), quase três vezes mais do que em Portugal (123 dias).
Os dados recolhidos indicam ainda que os adolescentes que sentiram suporte social por parte dos colegas e professores sentiram menos pressão.
A família (relação com família e comunicação) foi o suporte mais importante para atenuar o impacto negativo da pandemia, seguida pelos professores, colegas e por último os amigos.
É nas raparigas que se verifica uma relação mais forte entre o suporte da família e dos professores e o impacto da pandemia.
Nas conclusões deste trabalho, a OMS defende que se deve ter em conta o impacto negativo na escola, intervir nos grupos com diferentes impactos e que os adolescentes devem ser ouvidos para a recuperação pós-pandemia. Diz ainda que as relações interpessoais e a gestão das emoções serão importantes para futuras situações de ‘stress’ ou pandemias.
Defende igualmente que a intervenção na promoção de saúde mental e bem-estar deve ser avaliada e monitorizada e que os programas e serviços de apoio à saúde mental devem ser adequados para facilitar o acesso dos adolescentes e adequados às diferentes idades e género.
LUSA/HN
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