A paciente, ainda sob supervisão médica desde a operação no final de novembro no NYU Langone Hospital, em Nova Iorque, pioneira na área, regressou na terça-feira ao seu percurso médico sem precedentes.
“Tive a sorte de ter recebido este presente, uma segunda oportunidade na vida”, confidenciou ao lado da equipa médica durante uma conferência de imprensa.
Looney doou um dos seus rins à mãe em 1999 e viveu oito anos em diálise depois de uma complicação na gravidez lhe ter danificado o rim restante.
Esta norte-americana que vive no Alabama, no sul dos Estados Unidos, aguardava por um transplante desde 2017 e não conseguiu encontrar um dador compatível.
À medida que a sua condição médica se agravava, foi autorizada a receber um rim de porco geneticamente modificado.
“Estou cheia de energia, tenho apetite”, garantiu na terça-feira, continuando com uma gargalhada: “e claro que posso ir à casa de banho”
Este tipo de transplante denominado xenoenxerto, entre animal e humano, alimenta a esperança de responder à escassez crónica de doações de órgãos num país onde mais de 100 mil doentes estão em lista de espera, incluindo mais de 90 mil por um rim.
Três semanas após a operação, a paciente apresentava “condições renais normais”, frisou o cirurgião Robert Montgomery, membro da equipa médica.
O Hospital Langone da NYU, em Nova Iorque, já tinha transplantado rins de porco em dois outros pacientes vivos, Rick Slayman e Lisa Pisano, no início deste ano. Mas este último, gravemente doente, morreu poucas semanas depois.
Towana Looney, cuja saúde geral é melhor do que a destes doentes, beneficiou de um rim ligeiramente diferente, explicou Montgomery.
Ao contrário dos órgãos recebidos pelas duas primeiras pessoas que tiveram apenas uma modificação genética, o rim que foi transplantado para a Looney tem dez.
Estas modificações do ADN do porco destinam-se a melhorar a compatibilidade biológica entre o animal e o ser humano e a evitar que o órgão seja imediatamente rejeitado pelo organismo do recetor.
Nestas operações anteriores, os médicos transplantaram também o timo do porco, uma glândula que desempenha um papel importante na resposta imunitária. Não foi o caso de Looney.
Além disso, uma nova combinação de medicamentos foi testada neste último transplante.
A equipa médica anunciou na terça-feira que a empresa Revivicor, fornecedora do rim transplantado, vai pedir às autoridades norte-americanas autorização para iniciar, a partir do próximo ano, ensaios clínicos nos dois tipos de rins desenvolvidos.
Há muito confinado à ficção científica, o xenotransplante beneficiou recentemente dos progressos realizados na edição genética e no controlo da resposta do sistema imunitário, limitando os riscos de rejeição.
“O próximo objetivo é prolongar a vida útil destes rins, incluindo fornecê-los a pessoas mais saudáveis, com melhores hipóteses de viver mais tempo”, apontou Montgomery.
Vários outros transplantes deste tipo foram realizados pela sua equipa nos últimos anos, incluindo o primeiro transplante mundial de rim de porco num doente com morte cerebral, em setembro de 2021. O órgão funcionou bem durante alguns dias.
Outra equipa científica americana realizou em 2022 o primeiro transplante mundial de coração de porco num ser humano vivo. Mas o homem, operado por cirurgiões da Universidade de Maryland, morreu dois meses depois da operação.
LUSA/HN
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