“A decisão tomada pelo Governo Regional [PSD/CDS/PPM] foi a melhor decisão, sempre com as premissas da segurança dos nossos utentes e profissionais de saúde”, afirmou, em entrevista à Lusa, a titular da pasta da Saúde nos Açores, Mónica Seidi (na imagem).
No dia 04 de maio de 2024, o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, foi afetado por um incêndio, que obrigou à transferência de todos os doentes para outras unidades de saúde.
Os serviços do hospital reabriram de forma faseada e foi instalado um hospital modular junto ao edifício, que será alvo de obras de recuperação e modernização.
A opção pela construção de um hospital modular gerou críticas de antigos administradores do hospital e de partidos da oposição, que alegam que o edifício afetado pelo incêndio tinha condições para reabrir em agosto.
A Assembleia Legislativa dos Açores criou uma comissão de inquérito para apurar as causas do incêndio e avaliar os procedimentos adotados pela administração e Governo Regional para a retoma da atividade.
O PS/Açores alega que o hospital modular já custou cerca de 30 milhões de euros, mas a titular da pasta da Saúde garante que a estrutura custou 12 milhões (mais IVA).
“À [empresa] MBW foram pagos 12 milhões (mais IVA). Não consigo perceber como é que se junta o custo dos equipamentos ao custo do hospitalar modular, na medida em que estes equipamentos transitarão para o novo HDES”, afirmou.
Além da estrutura do hospital modular, Mónica Seidi admite um custo prévio à instalação de 3,2 milhões de euros, que envolve ações como terraplanagem, arruamentos, rede de águas, esgotos e eletrificação.
Foi assegurada também uma verba de 10 milhões de euros para custos de funcionamento, mas que, segundo a governante, estão relacionados com a dispersão de serviços por outras unidades de saúde e não com o hospital modular.
“A possibilidade de investir numa infraestrutura que permite que estes serviços estejam a funcionar no perímetro do HDES e que vai permitir a possibilidade de funcionar como estrutura de retaguarda durante as obras do novo HDES, com um investimento associado aos equipamentos, foi a decisão que o Governo Regional tomou consciente de que era a melhor decisão para servir o interesse público, a salvaguarda dos nossos utentes do Serviço Regional de Saúde e dos nossos profissionais”, vincou.
Questionada sobre a comissão de inquérito, Mónica Seidi disse que terá possibilidade de prestar esclarecimentos aos deputados quando for ouvida.
Ainda assim, ao longo da entrevista, ressalvou que houve serviços que não reabriram no hospital por “questões de segurança”.
“Estamos a falar de situações complexas, com risco clínico muito elevado e as decisões englobam, naturalmente, uma equipa multidisciplinar. Não tem só a ver com o facto de a energia estar resolvida, há tudo o resto em volta que tem de ser acautelado, porque se alguma coisa correr menos bem, temos profissionais de saúde que poderão vir a ser responsabilizados e isso também pesa nas decisões do governo”, salientou.
O bloco operatório, por exemplo, só reabriu em setembro, com duas salas de cirurgia e uma de pequena cirurgia, mas segundo a titular da pasta não estava em causa apenas a qualidade do ar.
“É preciso saber se, efetivamente, todos os requisitos estão cumpridos e se os profissionais de saúde sentem segurança para operar naquela sala, porque se houver uma infeção de uma prótese, por exemplo, não é o coordenador do serviço de instalações e equipamentos que vai responder por essa infeção, é o profissional de saúde. Temos de ter em conta que há várias condicionantes e variáveis antes de tomar decisões”, apontou.
Mónica Seidi disse que o Governo Regional decidiu não apenas reabilitar o que existia em 03 de maio, mas “pensar o futuro” de uma “infraestrutura obsoleta, que durante anos não teve o investimento que deveria ter tido”.
“Aquilo que estava a acontecer até ao dia 03 de maio, naturalmente, já não nos dava garantias de termos um serviço com a melhor qualidade possível”, frisou.
Um ano depois do incêndio, Mónica Seidi disse que o processo foi “desafiante”, mas garantiu que a tutela continuou a “fazer investimentos que estavam previstos para todas as ilhas” e que é “totalmente falso” dizer que “o dinheiro foi todo canalizado para o HDES”.
“Reconhecendo que houve, naturalmente, situações que não correram bem e que não correram como estávamos à espera, de uma forma geral conseguimos dar resposta às solicitações”, afirmou.
Recordando o dia do incêndio, a titular da pasta da Saúde elogiou a “dedicação de quem estava no terreno” e “capacidade de liderança de quem tomou as decisões”, que permitiram transferir todos os doentes e colocar o hospital a funcionar fora daquele edifício em 24 horas.
“Tínhamos 333 utentes”, que foram transferidos “em seis horas e não tivemos qualquer vítima mortal associada a essa evacuação, que é uma operação muito complexa, com risco associado grande e em que às vezes breves minutos podem fazer a diferença, sobretudo quando estamos a falar de doentes críticos”, sublinhou.
NR/HN/Lusa
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