Investigadores procuram marcadores que tornam pessoas susceptíveis ou resistentes à infeção

29 de Junho 2020

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto, vão procurar marcadores genéticos em indivíduos do Norte do país com o intuito de perceber o que os torna mais suscetíveis ou resistentes à infeção pelo SARS-CoV-2.

“Nas doenças infecciosas existem causas genéticas, causas ambientais e virais que fazem com que algumas pessoas possam ser mais suscetíveis do que outras em relação à infeção por SARS-CoV-2”, afirmou hoje Luísa Pereira, daquele instituto da Universidade do Porto (U.Porto).

Em declarações à Lusa, a investigadora explicou que o projeto, desenvolvido no âmbito da 2.ª edição da linha de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) RESEARCH 4 COVID-19, vai por isso avaliar marcadores genéticos de mil indivíduos que estiveram infetados e de mil indivíduos em que o teste à covid-19 “em dado momento deu negativo”.

Para tal, os investigadores vão caracterizar um ‘array’, técnica de diagnóstico que permite “ao mesmo tempo e com uma quantidade mínima de amostra classificar o indivíduo quanto às suas variantes genéticas num milhão de locais do genoma”.

“O nosso objetivo é fazer este estudo de associação ao nível de todo o genoma humano em que comparamos o perfil genético de pessoas que estiveram infetadas com o grupo de pessoas que não estiveram infetadas. Algumas das variantes [encontradas no genoma] podem ser aquelas que nos tornam suscetíveis ou não à infeção”, referiu Luísa Pereira.

Segundo a investigadora, esta técnica permite que os estudos deixem de ser “enviesados” e permitirá “enriquecer o poder estatístico” dado o elevado número de pessoas que vão participar.

Além disso, o objetivo dos investigadores é, sempre que possível, fazer a correlação entre pessoas que coabitam, mas que não partilham informação genética.

“Os indivíduos não podem estar relacionados [geneticamente] porque assim também estávamos a enviesar o estudo. Vamos tentar fazer no mesmo agregado familiar, ou seja, pessoas casadas ou que moram juntas. Portanto, vamos tentar perceber porque é que determinada pessoa deu negativo no teste, mas esteve exposta ao vírus porque partilha habitação com uma pessoa que esteve infetada”, esclareceu.

Luísa Pereira afirmou ainda que a expectativa dos investigadores, nos próximos seis meses, é conseguir “identificar alguma variante genética que seja estatisticamente mais frequente no grupo de pessoas infetadas e o oposto”, por forma a permitir, por um lado, perceber o que contribui para a suscetibilidade e por outro, para a resistência ao novo coronavírus.

Além do i3S, integra este projeto, financiado em 40 mil euros, a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte).

Este é um dos 55 projetos apoiado pela 2.ª edição da linha RESEARCH 4 COVID-19, que visa responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde e que na sua 1.ª edição apoiou 66 projetos.

Portugal contabiliza pelo menos 1.564 mortos associados à covid-19 em 41.646 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

LUSA/HN

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