Outras formas para atingir a paz, segundo António Guterres, são a justiça económica, investimentos na inclusão social de todos os grupos e a rejeição de “figuras religiosas e políticas que exploram as diferenças”, num contexto em que as sociedades estão a tornar-se “multiétnicas, multirreligiosas e multiculturais”.
O antigo primeiro-ministro português, que se reafirmou como católico crente no discurso de aceitação de prémio, de forma virtual durante a cerimónia de entrega do galardão em Assis, Itália, considerou que “o santo padroeiro da ecologia”, São Francisco, “tem muito a ensinar sobre como fazer as pazes com a natureza”.
“Os nossos hábitos insustentáveis de produção e de consumo estão a provocar uma tripla crise planetária: uma disrupção do clima, uma perda catastrófica de biodiversidade e níveis de poluição que matam milhões de pessoas todos os anos”, destacou o secretário-geral.
O chefe das Nações Unidas declarou que a tripla crise planetária requer uma “ação urgente de todos”, incluindo governos, organizações internacionais, empresas, cidades e habitantes, com iniciativas de reflorestamento, cooperação na gestão de recursos hídricos e terrenos transfronteiriços, por exemplo.
Além de ser necessário reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa em 45% até 2030, é preciso facilitar o acesso de países em desenvolvimento a “financiamento climático”, defendeu.
António Guterres considerou que a “paz é ilusória”, as desigualdades são “ameaças” e os elevados níveis de pobreza “são um ataque direto aos direitos humanos” que estão associados a “problemas de saúde, aumento dos níveis de criminalidade, corrupção e instabilidade”.
A pandemia de covid-19 é também uma grave “ameaça à paz”, classificou o antigo Alto Comissário para os Refugiados, recordando ter feito apelos para um cessar-fogo global várias vezes desde o início da calamidade sanitária pública.
“Em resposta ao crescentes ódio antimuçulmano, antissemitismo e perseguição de cristãos, racismo e xenofobia, todos devemos promover a nossa humanidade comum”, declarou, pedindo mais investimentos na inclusão e respeito pelas identidades de todos os grupos sociais.
O secretário-geral da ONU afirmou que um dos projetos mais importantes da atualidade é construir “pontes” entre religiões, recordando o acordo sobre a Fraternidade Humana em Prol da Paz e da Convivência Comum assinado há dois anos pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã de Al-Azhar, Sheikh Ahmed al-Tayeb.
António Guterres, que atribui a sua “relação muito próxima com os franciscanos” devido à amizade de longa data com o padre e sacerdote português Vítor Melícias, aceitou a Lâmpada da Paz em nome de toda a Organização das Nações Unidas.
“Ao homenagear-me, estão a reconhecer o trabalho de todos os funcionários das Nações Unidas que lutam pela paz em todo o mundo: diplomatas, trabalhadores humanitários, especialistas em desenvolvimento e militares em operações de paz, que enfrentam situações de perigo para salvaguardar e promover a paz”, disse o secretário-geral.
António Guterres, que se quer afirmar, no segundo mandato como secretário-geral da ONU, como “mediador justo, construtor de pontes e mensageiro da paz”, sugeriu ainda que as empresas de media recrutem repórteres de paz e não apenas repórteres de guerra e que os governos apresentem orçamentos de paz, para além dos orçamentos de defesa.
LUSA/HN
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