A publicação, divulgada pela imprensa estatal chinesa, inclui dois capítulos dedicados às contribuições da China para o estudo da origem do SARS-CoV-2 e para a luta global contra a pandemia, e um terceiro centrado na resposta “mal gerida” dos EUA à crise sanitária, sobretudo nos primeiros meses.
O surto da pandemia coincidiu com o último ano do primeiro mandato de Donald Trump, que, após regressar à Casa Branca em janeiro, lançou uma guerra comercial global sem precedentes, com a China como principal alvo.
Pequim alegou ter cooperado com a Organização Mundial da Saúde (OMS) no estudo das origens do vírus “com um forte sentido de responsabilidade global e transparência” e criticou no relatório os Estados Unidos como “um elo fraco na governação global da saúde”.
No documento citam-se vários estudos que descartam a hipótese de a cidade de Wuhan — onde o SARS-CoV-2 foi inicialmente detetado — ter sido a origem do vírus, considerando “extremamente improvável” que este tenha escapado de um laboratório local.
O Instituto de Virologia de Wuhan, estabelecido em 1956, é uma instalação classificada com o nível mais alto de risco biológico onde se estudam, entre outros, vírus do mesmo tipo do SARS-CoV-2.
Pequim acusou Washington de estigmatizar a China, fazendo dela um “bode expiatório”, e de “tentar desviar atenções” ao politizar a questão da origem do vírus.
No documento, alega-se que há indícios de uma possível circulação do vírus nos EUA antes da sua deteção oficial em Wuhan.
Entre esses indícios, são mencionados surtos de pneumonia e gripe em vários estados norte-americanos em 2019, casos de doenças pulmonares associadas ao uso de cigarros eletrónicos, estudos serológicos realizados por instituições dos EUA e “incidentes” documentados entre 2006 e 2020 em laboratórios que manipulam coronavírus e outros agentes patogénicos.
“Deve ser conduzida uma investigação aprofundada sobre as origens do vírus nos Estados Unidos”, lê-se no livro branco, que apela a Washington para dar “uma resposta responsável” à comunidade internacional face a esta “preocupação razoável”.
A publicação surge quase cinco meses depois de a OMS, no quinto aniversário do início da pandemia, ter renovado o apelo a uma maior transparência relativamente à origem da doença.
“Continuamos a apelar à China para que partilhe dados e permita o acesso necessário para compreendermos as origens da covid-19. Este é um imperativo moral e científico. Sem transparência e cooperação entre países, o mundo não estará preparado para futuras epidemias e pandemias”, afirmou a agência de saúde num comunicado.
Missões da OMS visitaram a China por duas vezes com o objetivo de apurar a origem da doença. Especialistas reconhecem que todas as hipóteses continuam em aberto, incluindo a de uma eventual fuga laboratorial ou a hipótese de uma transmissão do vírus para humanos a partir de outras espécies animais.
NR/HN/Lusa
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