Investigadores portugueses defendem testes alargados a sintomas ligeiros

10 de Novembro 2020

Investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública defendem que sintomas ligeiros como obstrução ou corrimento nasal, dor de garganta e dores musculares, devem ser valorizados e considerados suspeitos para a realização de testes à Covid-19.

Um artigo de opinião hoje publicado no Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Universidade Nova, recomenda que sejam alargados os critérios para testagem à Covid-19 aos sintomas ligeiros e que seja montada uma nova estratégia de comunicação para a população.

“A definição de caso suspeito deve ser alargada a estes sintomas ligeiros para que a política de testagem seja mais sensível e não deixe passar desapercebidos um grande número de casos que ultrapassam os critérios atualmente definidos na Norma Portuguesa (tosse, febre, dispneia e alterações do olfato e paladar) com impacto relevante na transmissão”, preconizam os investigadores, Vasco Ricoca Peixoto, André Vieira, Pedro Aguiar, Alexandre Abrantes do Centro de Investigação em Saúde Pública.

A transmissão silenciosa da Covid-19, através de sintomas ligeiros não valorizados, pelo menos dois dias antes do início de sintomas, “é uma forma importante de disseminação da doença”, alertam.

Os atuais critérios de um caso suspeito para testagem e a estratégia de comunicação levam, no momento epidémico atual, a que muitas pessoas infetadas desvalorizem outras combinações de sintomas relevantes e a não darem importância aos sintomas ligeiros, especialmente se não tiverem conhecimento de contactos com um caso positivo (algo que poderá estará a tornar-se mais comum).

“O facto de desvalorizarmos os sintomas ligeiros e não testarmos as pessoas com essas manifestações ligeiras representa um ângulo morto do controlo da pandemia e pode estar a contribuir para o atual descontrole da mesma na Europa em contexto de maiores contactos laborais e sociais associados a diminuição de restrições. Se não identificarmos estes casos, não poderemos controlar as cadeias de transmissão”, fundamentam.

O controlo da pandemia passa também por uma estratégia de comunicação para a população sobre a importância dos sintomas da doença além da febre, tosse, falta de ar e perda de olfato e paladar.

“Medidas restritivas mais gerais podem falhar na contenção da transmissão se os cidadãos continuarem a desvalorizar um conjunto de sintomas ligeiros”, alertam.

Estudos epidemiológicos internacionais recentes mostram que os sintomas mais frequentes da covid-19 nos jovens entre os 15 e os 39 anos são a dor de cabeça (70,3%), a perda do olfato (70,2%), a obstrução nasal (67,8%), a tosse (63,2%), a falta de força (63,3%), as dores musculares (62,5%), o corrimento nasal (60,1%), a alteração do paladar (54,2%) e a dor de garganta (52,9%). Só 63% se queixaram de tosse, 49% de falta de ar e 42% de febre.

Segundo os autores, “só se encontra aquilo que se procura” e se estes sintomas forem incluídos nos critérios para testagem de casos suspeitos, “mais casos poderão ser detetados e tomadas as medidas de saúde pública adequadas”.

Adicionalmente, se os cidadãos forem sensibilizados para estarem atentos a estes sintomas enquanto possíveis sinais da doença, poderão tomar as medidas necessárias para reduzir a transmissão nos meios familiares, sociais e profissionais e solicitar a testagem.

Os Testes Rápidos de Antigénio (TRAg) para a Covid-19, já utilizados em Portugal, permitem que se teste as pessoas que têm febre, tosse e falta de ar, mas também as que apresentam sintomas respiratórios ligeiros, típicos das infeções respiratórias agudas ou combinações dos mesmos tais como corrimento ou obstrução nasal, dor de garganta, tosse, dor de cabeça, mialgias etc.

“Estes testes, mesmo com menor sensibilidade e especificidade podem trazer ganhos de prevenção pela sua facilidade de acesso e rapidez de resultado permitindo atuação rápida em vários contextos em larga escala de modo a isolar casos e contactos de alto risco dos mesmos em período infeccioso facilitando a identificação e quebra de cadeias de transmissão e surtos”, asseguram.

LUSA/HN

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