Ventura acusa Marcelo de ser “cúmplice” e “para-raios” do Governo

15 de Novembro 2020

O candidato a Belém André Ventura acusa Marcelo Rebelo de Sousa de ser o Presidente da República “mais cúmplice” com o Governo desde o 25 de Abril, funcionando como "para-raios" do primeiro-ministro, António Costa.

Em entrevista à agência Lusa, dada na quinta-feira, o também presidente do Chega fez um balanço do mandato do chefe de Estado, defendendo que “o que ficará do legado de Marcelo Rebelo de Sousa é ter sido provavelmente o Presidente mais cúmplice da história da terceira República”.

“Acho que é um mandato que tem como palavra principal, de caracterização, ‘cumplicidade’. Cumplicidade com o Governo, acho que foi nisso que Marcelo Rebelo de Sousa apostou tudo desde o início do seu mandato”, afirmou.

O candidato lembrou que o Presidente da República “já várias vezes tinha dito, enquanto comentador, que os portugueses nunca punham os ovos todos no mesmo cesto”, e portanto decidiu “não hostilizar o Governo PS”, porque se o Governo “muda para a direita, é mais difícil” ser reeleito.

Para André Ventura, “isso vê-se em várias coisas”, por exemplo “no apelo sucessivo para aprovar os Orçamentos do Estado”.

“Aliás, eu nunca vi um Presidente tão entusiasmado com um Governo como Marcelo Rebelo de Sousa. Acho que foi o Presidente que mais se entusiasmou com o Governo, muitas vezes serviu de para-raios ao Governo quando o tom subia na Assembleia da República, embora desde que Rui Rio entrou também nunca subiu assim muito, mas foi sempre o para-raios de António Costa”, concretizou.

Ventura, que é também deputado único do Chega, reconheceu que as próximas eleições para a Presidência da República (que deverão ser disputadas em janeiro) podem traduzir-se numa “luta difícil”, mas salientou que se candidata porque acredita que é aquilo que deve fazer e que vai valer a pena.

O líder do Chega mostrou-se também convicto de que vai conseguir “ter o dobro daquilo que as sondagens” antecipam e de que vai disputar uma segunda volta.

Sobre a campanha, que poderá não acontecer nos moldes habituais e com grandes ajuntamentos devido à pandemia de covid-19, o candidato admitiu uma “reformulação dos modelos de campanha” devido às restrições que ainda poderão estar em vigor, mas garantiu que “a caravana vai sair” e vai andar na rua, pois gosta de estar junto dos eleitores, recusando uma campanha através da internet.

“Vamos ter de nos adaptar, como se faz nos eventos, agora não vou deixar de ir aos sítios porque a nossa vantagem é essa”, defendeu, exemplificando que os comícios poderão passar da rua para auditórios, com lugares marcados, e que os jantares poderão dar lugar a ‘cocktails’.

André Ventura só admitiu “alguma espécie de modelo virtual de campanha” caso em janeiro ainda estejam em vigor as restrições à circulação, mas espera “que isso não aconteça”.

Na sua ótica, “as eleições não podem ser adiadas”, e portanto os candidatos terão de se “ajustar ao novo panorama, e o panorama em janeiro vai ser este”.

Questionado sobre a sua intenção de suspender o mandato de deputado para participar na campanha a tempo inteiro, o candidato indicou que vai pedir a suspensão “logo quando entregar o processo” para a oficialização da candidatura e que vai bater-se por ser aceite, “se for preciso até ao Tribunal Constitucional”.

Sobre o anúncio de que abandona a liderança do partido caso Ana Gomes fique à sua frente uma vez apurados os resultados eleitorais, Ventura reiterou essa intenção: “Sim, evidente, eu quando digo as coisas é para manter. O que eu quis dizer com isso foi que tenho de tirar responsabilidades e ilações do facto de a doutora Ana Gomes ter mais [votos] do que eu”.

“Ana Gomes não gera nas pessoas a empatia necessária, o prestígio necessário, o entusiasmo necessário para ser uma boa candidata presidencial, na minha opinião, tem-se rodeado de pessoas que também não ajudam na campanha dela, como é o caso do Paulo Pedroso, mas não só. E portanto, não há nenhum motivo para ela ficar à minha frente, seria que eu fiz um mau trabalho e tenho de tirar consequências disso, mantenho o que digo”, advogou.

Já Marisa Matias, a candidata apoiada pelo BE, “não traz nada de novo” e está a perder eleitorado para a socialista.

André Ventura referiu igualmente que vai manter a postura crítica em relação aos restantes candidatos e que vai manter “o tom” e “o registo” que adotou até aqui, recusando que seja insultuoso.

LUSA/HN

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