“Temos muitas pessoas, com mais de 50 anos, que veem qualquer coisa publicada nas redes sociais, porque um colega ou amigo partilhou, e acreditam por definição”, disse.
Para Miguel Crespo, esta situação deve-se especialmente à confiança que os leitores mais velhos foram atribuindo aos meios de comunicação tradicionais, depositando-a agora e de uma forma altamente acrítica em todo o tipo de informação consumida na internet.
“Até ao final do século XX nenhuma informação chegava aos cidadãos sem passar por qualquer filtro, ou seja, estas pessoas cresceram num mundo em que a comunicação era mediada e por isso mais credível”. Hoje em dia, ressalvou o investigador, as gerações mais novas, que nasceram e cresceram num ambiente sobretudo digital, já encaram os media com outros olhos, desconfiando geralmente da sua veracidade até a informação noticiada ser de facto verificada e sustentada.
Antevendo que as notícias falsas não acabem tão rapidamente, Miguel Crespo reforça que a educação e formação é a chave para que o público seja capaz de identificar este tipo de conteúdos e o perigo associado aos mesmos. Atualmente, o investigador está também integrado num projeto que aposta na literacia mediática de professores e alunos nas escolas de todo o país – uma iniciativa pensada pelo Congresso dos Jornalistas, em 2017, e desenvolvida com o apoio do Ministério de Educação e da Cultura. “A literacia mediática é no fundo dar às pessoas, de qualquer idade, sejam crianças ou reformados, ferramentas simples e operacionais que possam ser transmitidas numa hora ou duas para que se estimule o seu espírito crítico”, explicou.
Apesar do sucesso e da continuidade das referidas ações de formação em ambiente escolar, o investigador admite no entanto que há ainda trabalho por fazer para alcançar as camadas mais velhas do país – “organizar as coisas para uma população sénior é tudo mais complicado, até por questões legais, já que em Portugal os reformados não podem fazer formação profissional”.
Paulo Martins, professor universitário do ISCSP e investigador na área da Ética e Deontologia Jornalísticas, não toma como garantido que as pessoas acima dos 50 anos sejam mais vulneráveis às notícias falsas e prefere encarar a desinformação como um problema transversal a todas as gerações. “Não é uma questão etária, é uma questão de quem tem acesso às ‘fake news’”, afirma o professor, acrescentado ainda que com a digitalização há cada vez mais formas de consumir e até de produzir informação, o que inevitavelmente leva à circulação de mensagens manipuladas. “Hoje qualquer pessoa pode escrever uma reportagem e difundir. Mas não são jornalistas, não têm os mesmos deveres, nem um código deontológico a cumprir”, defende.
Ambos os investigadores concordam que não existe uma “fórmula mágica” para acabar com o problema da desinformação ou que este possa ser resolvido apenas com um maior controlo por parte das próprias plataformas e redes sociais dos conteúdos partilhados. “Estamos a falar de milhões de mensagens”, alerta Paulo Martins, “é preciso ter uma equipa muito rápida para identificar que algo é mentira”. Um olhar mais crítico do público sobre a informação consumida é possivelmente a melhor arma contra o fenómeno, apontam.
LUSA/HN
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