Cinquenta milhões de pessoas no mundo sem acesso a insulina para tratar a diabetes

27 de Novembro 2020

Cem anos depois da descoberta da insulina por cientistas canadianos, cerca de metade dos 100 milhões de pessoas que precisam desta hormona para tratamento da diabetes não tem acesso ao produto, segundo dados divulgados na quinta-feira.

A Universidade de Toronto organizou um simpósio sobre insulina, no âmbito da comemoração da descoberta da hormona em 1921 pelos investigadores canadianos Frederick Banting e Charles Best, trabalho pelo qual o primeiro recebeu o Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina.

O endocrinologista da Escola de Medicina da Universidade de Toronto, Calvin Ke, da mesma instituição onde Banting e Best sintetizaram a hormona há quase 100 anos, destacou, em declarações à agência EFE, que esta “foi uma das descobertas mais monumentais da medicina porque salvou a vida de milhões de pessoas com diabetes ‘tipo 1’ e algumas com ‘tipo 2’”.

“Sem insulina, as pessoas com diabetes ‘tipo 1’ desenvolvem complicações médicas com riscos para a vida. É muito importante que as pessoas tenham acesso à insulina. O centenário é uma oportunidade para refletir sobre os desafios que as pessoas com diabetes atualmente enfrentam”, acrescentou.

Estima-se que 463 milhões de pessoas tiveram diabetes no ano passado, 80% das quais em países em desenvolvimento. Desse número, cerca de 100 milhões precisam de tratamento com insulina, mas apenas cerca de 50% deles têm acesso ao medicamento.

Calvin Ke sublinhou que em países como o México, a diabetes tornou-se um grave problema social e de saúde devido ao aumento de casos e aos efeitos que tem na qualidade de vida dos pacientes.

“Na América Latina, na África, na Ásia, estão a ocorrer números elevados de casos. A diabetes reduz a expectativa de vida para pessoas entre 40 e 60 anos, causando a morte prematuramente entre quatro e dez anos antes devido às complicações causadas pela doença”, alertou.

Segundo um artigo publicado este mês na revista científica ‘The Lancet’, o aumento da obesidade e da diabetes na América Latina é apontado como a principal causa dos altos índices de mortalidade naquela região.

“No México e no Chile, mais de 75% da população feminina está acima do peso. Alimentos processados com baixos níveis de nutrientes e densidade energética costumam ser o único tipo de alimento facilmente acessível para as pessoas mais desfavorecidas”, sustenta o artigo.

Calvin Ke lembrou ainda que a insulina é responsável por “10% ou mais dos gastos com medicamentos em muitos desses países, onde as pessoas têm que pagar pela insulina do próprio bolso e o custo varia enormemente. Em alguns países é menos de dois dólares [cerca de 1,68 euros] por um frasco de insulina, e em outros é superior a 75 dólares [cerca de 62,97 euros]”.

Para muitas pessoas, o custo de um frasco de insulina é o equivalente a quatro dias de salário, disse ainda.

O médico canadiano destacou que é preciso eliminar as “barreiras estruturais” existentes em muitos países e melhorar os sistemas de saúde para garantir o tratamento da diabetes de forma global.

LUSA/HN

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