Marcel Borges, porta-voz dos estafetas, explicou à Lusa que “as reivindicações são dirigidas tanto às autoridades [do país], porque é um grito de socorro, como as próprias plataformas que estão a deixar em vácuo todos os estafetas, pois não marcam, sequer, uma reunião, deixando [os trabalhadores] à mercê da sorte e sem um reajustamento de tarifas, no caso da Uber, há dois anos”.
Continuando em tom crítico, o estafeta afirmou que “a Glovo, há 15 dias, em vez de aumentar o valor do quilómetro, diminuiu-o em 50%, passando de 42 cêntimos para 24 cêntimos”, concluindo, que em face dos novos números os “estafetas estão a pagar para trabalhar”.
“No Porto somos cerca de 3.000 estafetas, sendo que antigamente 80% eram brasileiros, mas agora 40% dividem-se entre paquistaneses, indianos, venezuelanos e muitos portugueses”, acrescentou Marcel Borges, já saudoso do que trabalhou em 2020 e 2021.
É que, contou, “durante a pandemia, a Uber, a Glovo e a Bolt foram muito rentáveis”, mas agora os estafetas começam a sentir o contrário, pois as plataformas “estão a cortar todos os direitos em relação ao acesso ao seguro [de trabalho], que não têm, forjam falsas promoções e, fazendo as contas, estão a perder 50% do valor que era auferido antigamente”.
“Queremos o reajustamento das tarifas, mas se isso não for possível vamos querer celebrar um contrato de trabalho, com um valor base mínimo de 850 euros, ajudas de custo, de combustível, de valores a cada entrega realizada”, resumiu o porta-voz dos manifestantes.
Marcel Borges relatou ainda que para um estafeta “ganhar 30 euros por dia tem de trabalhar 10 horas em cima de uma mota”.
“Estamos à mercê destas multinacionais, que são verdadeiros leões, que não querem responsabilidade, só lucro. Nós não temos, sequer, um atendimento presencial e queremos que ele volte a estar disponível”, exigiu, prometendo que no caso de as reivindicações não serem atendidas irão até ao “Ministério do Trabalho exigir um contrato”.
Na manifestação estiveram José Soeiro (BE) e Diana Ferreira (PCP) intervindo antes de os estafetas concentrados fazerem um desfile pelas ruas do Porto para mostrar o seu desagrado.
Na comunicação distribuída, os trabalhadores querem também um aumento 80 cêntimos do valor por quilómetro, do preço da gasolina por cada quilómetro contado desde a receção do pedido até à entrega do mesmo ao cliente ou uma percentagem igual a 50% do preço da gasolina, que cada vez é mais variável e que tem penalizado a classe trabalhadora, lê-se ainda.
Férias pagas e um subsídio de Natal no valor proporcional ao do ano trabalhado figuram também entre as reivindicações.
Em Portugal não existe uma lei específica para o serviço destas plataformas de entregas (em que os estafetas são designados como parceiros, trabalhando sobretudo por conta própria).
Na anterior legislatura, o Governo socialista apresentou aos parceiros sociais linhas de reflexão sobre eventuais medidas a adotar através do Livro Verde sobre o Futuro do Trabalho, mas com o chumbo do Orçamento do Estado e a consequente demissão do executivo o processo ficou parado.
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