“Num contexto de covid-19 e de sobrelotação de hospitais, muita ocupação de cuidados intensivos, em que há menos tempo e a pressão é maior, é evidente que estão criadas condições para que esse microrganismo [‘Acinetobacter baumannii’] possa sobreviver e possa causar mais infeções. É preciso procurá-lo e diagnosticá-lo”, descreveu à Lusa o investigador Acácio Rodrigues.
O professor da FMUP, que sobre este tema assina com o investigador Diogo Duarte um artigo científico no Journal of Pathology, Microbiology and Immunology, avaliou o risco atual de rápida transmissão desta bactéria em ambiente hospitalar e concluiu que estão criadas as condições para uma “tempestade perfeita” face ao contexto da pandemia da covid-19.
A completa lotação das unidades de cuidados intensivos, a falta de tempo e o ‘burnout’ dos profissionais de saúde, bem como o atraso na deteção do ‘Acinetobacter baumannii’, são aspetos descritos pelos investigadores que alertam para “o aparecimento de uma ameaça grave”.
“Isto é um problema. Os hospitais têm de ser seguros”, sublinhou Acácio Rodrigues.
O ‘Acinetobacter baumannii’ é um microrganismo que coloniza doentes e coloniza o ambiente.
As infeções podem manifestar-se de diferentes formas, desde pneumonias a infeções urinárias, “podendo ser de difícil diagnóstico e tratamento e estando associadas a elevadas taxas de mortalidade”.
Este microrganismo “tem uma capacidade muito acrescida, comparativamente a outros, de sobreviver em ambientes húmidos e ambientes adversos e, eventualmente, infetar doentes que venham a contactar com superfícies onde tenham estado doentes previamente colonizados e infetados”, acrescentou o docente.
Acresce que este é uma bactéria que “desenvolve resistência aos antibióticos, aos desinfetantes e aos detergentes”, razão pela qual os investigadores defendem uma “maior rotatividade” dos produtos usados nas limpezas de equipamentos e superfícies, bem como “atenção redobrada” em unidades de cuidados intensivos, unidades de queimados, entre outras que acolhem doentes críticos.
Informação remetida à Lusa pela FMUP destaca que esta bactéria “pode persistir durante largos meses” em superfícies e equipamentos hospitalares, como aparelhos de ventilação colonizados, e que a transmissão do ‘Acinetobacter baumannii’ ocorre diretamente pelo contacto entre doentes infetados e pelo contacto dos doentes com profissionais de saúde.
Para prevenir surtos, o investigador frisa que em causa não está uma medida única de prevenção, mas sim “uma conjugação de medidas”.
O despiste precoce da colonização por este microrganismo, o isolamento de doentes, bem como medidas acrescidas e muito cuidadosas de desinfeção das superfícies dos quartos hospitalares são algumas das recomendações.
As estratégias de prevenção da transmissão desta bactéria podem, ainda, passar pela inclusão de ‘checklists’ (lista de verificação de tarefas de uma rotina ou de itens necessários) nos procedimentos hospitalares e educação dos profissionais, com os investigadores a recomendarem “uma boa comunicação”.
Sobre a rotatividade dos produtos de limpeza e desinfeção, e de modo a evitar a resistência da bactéria aos desinfetantes, os autores do estudo recomendam a “rotatividade dos compostos a cada três meses”.
LUSA/HN
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