Segundo Lélita Santos, a SPMI entende que, “neste momento, não é oportuno [a criação da nova especialidade], e que há outras alterações e medidas estruturais que devem ser tomadas antes de se analisar a necessidade dessa especialidade”.
“Para já não concordamos, e até nos opomos à criação da nova especialidade. Achamos que primeiro temos de organizar ou reorganizar o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, disse à agência Lusa a médica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
Cinquenta e seis antigos e atuais diretores de serviços de urgência do país subscreveram um manifesto a defender a criação da especialidade de Medicina de Urgência, que consideram indispensável face às “enormes insuficiências” da rede hospitalar.
“Numa altura em que é bem claro para a classe médica, bem como para os cidadãos, a existência de enormes insuficiências na entrega de cuidados de urgência na nossa rede hospitalar, torna-se indispensável dar este passo real na prossecução da melhoria desses cuidados”, refere o documento a que a agência Lusa teve acesso.
Os signatários lembram que esta é uma especialidade com mais de 50 anos “presente na esmagadora maioria dos países da Europa, nos quais constitui um dos pilares fundamentais dos cuidados médicos”, mas que só agora os médicos portugueses “vão decidir da bondade da sua criação”.
Antes de se avançar para a criação desta especialidade, a especialista Lélita Santos preconiza uma reorganização do SNS a começar pelos cuidados de saúde primários, que evitaria cerca de 40% de falsas urgências nos hospitais gerais.
“A nível dos cuidados primários há pouca resposta para os doentes pouco urgentes, menos complexos, que vêm aos serviços de urgência porque não têm médicos nos cuidados primários, onde se regista falta de médicos e de tempos”, disse.
A presidente da SPMI defende que os centros de saúde deviam abertos mais tempo, “quiçá as 24:00, com alguns meios complementares de diagnóstico para terem possibilidade de fazer uma radiografia ao tórax, eletrocardiograma e análises básicas nos casos necessários”.
Com abertura mais alargada dos centros de saúde, Lélita Santos considera que, “em parte”, se resolvia os enormes picos de afluência que se tem verificado nas urgências dos hospitais.
“Se 40% das entradas para a urgência são doentes que poderiam ser tratados realmente nos cuidados primários, muito melhor, com mais sossego, já não vinham parar à urgência e tínhamos tempo para tratar situações muito complexas ou agudas e que precisam de internamento ou de tratamento ou observação com outros meios”, sustenta.
A presidente da SPMI sublinha ainda que são precisas “mais pessoas, nomeadamente internistas e o apoio de outras especialidades” nos serviços de urgência dos hospitais, além de uma melhor assistência aos doentes que estão nas enfermarias para serem tratados mais rapidamente.
A especialista refere também que é necessário melhorar a articulação para que os doentes internados e que precisam de apoio social em unidades de convalescença, de permanência de média ou longa duração, possam ser rapidamente colocados para libertar vagas nas unidades de internamento.
Questionada sobre a falta de médicos no SNS, Lélita Santos salientou que aqueles profissionais “não se sentem acolhidos e deixam vagas abertas porque preferem outras alternativas” mais vantajosas.
“O que falta são boas condições de trabalho e melhor remuneração”, sublinhou a médica, frisando que é “preciso mais gente e melhor acolhida, porque as condições de trabalho são muito importantes, nomeadamente para os internos”.
A presidente da SPMI admitiu ainda que, no sul do país, sobretudo em Lisboa e Vale do Tejo, o encaminhamento de doentes por parte do Centro de Orientação de Doentes Urgentes possa não estar “tão bem distribuído” e que o ministério deveria analisar a situação para ver se é “possível fazer melhor”.
Relativamente às outras zonas do país, Lélita Santos disse que essa situação não se verifica.
LUSA/HN
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