Protesto em Ovar exige afetação dos utentes locais aos serviços de saúde da Feira

21 de Janeiro 2023

Cerca de uma centena de cidadãos participaram hoje numa marcha em defesa da afetação dos serviços de saúde de Ovar à futura Unidade Local de Saúde (ULS) de Santa Maria da Feira, opondo-se à possível referenciação para Aveiro, a maior distância

Com cerca de 100 participantes, a caminhada entre os Bombeiros Voluntários de Ovar e o Tribunal desse município do distrito de Aveiro foi organizada pelo movimento cívico ASO – Acorda Saúde Ovar, que foi constituído na sequência de várias manifestações de preocupação sobre o assunto nas redes sociais da Plataforma de Intervenção Cívica Coração Vareiro.

A discussão entre a comunidade deve-se ao facto de, inicialmente, a Câmara de Ovar ter aprovado resoluções da Comunidade Intermunicipal da Ria de Aveiro (CIRA) mostrando-se favorável a que os seus utentes ficassem afetos à ULS a criar em Aveiro, enquanto cidadãos e partidos defendem que só a afetação à ULS de Santa Maria da Feira faz sentido.

Daniela Pinho Lopes é uma das porta-vozes do movimento ASO e explica: “Organizámos este protesto porque surgiram notícias com os documentos da CIRA a dizer que o presidente da Câmara de Ovar e também vice-presidente dessa estrutura aprovou que a população vareira passasse a ser atendida em Aveiro. Isso não tem qualquer lógica porque é muito mais longe do que a Feira – a que a população já vem recorrendo há anos, porque o seu hospital de referência é o São Sebastião”.

Insistindo na necessidade de “serviços de proximidade”, a mesma manifestante nota que, para as freguesias mais a Norte no concelho de Ovar, o hospital da Feira está a distância de 5 a 10 quilómetros, enquanto o de Aveiro fica a 50.

“A marcha é para deixarmos bem claro que os 55.000 habitantes de Ovar preferem ser referenciados para a ULS da Feira e que a obrigação do presidente da Câmara é representar os interesses dos seus munícipes”, declara Daniela Pinho Lopes.

O movimento ASO quer que a referenciação dos utentes de Ovar seja decidida num prazo máximo de “30 a 60 dias” e antecipa que, caso isso não se verifique, avançará para outras formas de luta, nomeadamente protestos em Lisboa.

“O que não pode acontecer é ainda não haver decisão final e os utentes de Ovar já estarem a ser encaminhados pelo centro de saúde para o hospital de Aveiro e ouvirem coisas como ‘agora tem que esperar que lhe liguem de lá porque a marcação da sua cirurgia vai ser com eles’”, diz Daniela Pinho Lopes.

Ana Cláudia Reis é uma das utentes que já foi encaminhada para Aveiro e não gostou: “Liguei para a linha Saúde 24 por causa de uma urgência de pediatria para o meu filho e eles disseram que me iam referenciar para Aveiro [a 50 quilómetros] ou Coimbra [a 100]. Eu disse-lhes que isso era muito longe, que o habitual era mandarem-nos para a Feira e eles ficaram de analisar, mas a seguir recebi a mensagem no telemóvel a encaminhar-me mesmo para Aveiro, o que nunca tinha acontecido antes”.

Para essa residente de Ovar, a situação é ainda mais preocupante se se pensar “no caso de uma pessoa que sofra um enfarte, já que a demora até Aveiro pode ser fatal” – sobretudo considerando que o hospital de Ovar “nem sequer dispõe de uma VMER [viatura médica de emergência e reanimação] para dar assistência à vítima na viagem” e essa viatura terá que ser requisitada à Feira, atrasando ainda mais o tratamento hospitalar.

Questionada pela Lusa, a Câmara Municipal de Ovar não comenta a sua posição de dezembro de 2022 na CIRA, que, em comunicado de imprensa, divulgara na altura uma posição conjunta sobre a criação da ULS de Aveiro.

“A CIRA apoia esta decisão da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde [SNS] (…), tendo já manifestado a Fernando Araújo e (…) ao Ministro da Saúde toda a sua disponibilidade e empenho para acompanhar o grupo de trabalho (…) da criação da ULS da Região de Aveiro, defendendo serviços de saúde primários e hospitalares de qualidade e proximidade em todos os 11 municípios associados, com a ativa participação nesse processo dos hospitais de Aveiro, Águeda, Estarreja e Ovar”, refere a posição conjunta.

Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar, alega agora, contudo, o seu “desacordo de princípio” quanto à referenciação dos utentes vareiros para Aveiro e garante desejar o mesmo que os seus munícipes. “Pela proximidade que temos com as nossas gentes, sabemos bem que elas querem ser referenciadas para o local mais próximo e não para o local que mais convém ao Ministério da Saúde”, afirma.

O autarca social-democrata diz que comunicou à tutela a preferência pela afetação à ULS da Feira e adianta que solicitou “nova reunião com diretor executivo do SNS, aguardando-se o seu agendamento”.

A Lusa também questionou sobre o assunto o presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa, para perceber quando será acionada a ULS com sede nesse concelho. O autarca refere que o SNS ainda está a ultimar os termos da mudança, mas adianta: “O que está previsto é que a nova ULS da Feira entre em funcionamento ainda no primeiro trimestre de 2023”.

Entretanto, esta tarde os eleitos do PS, CDS-PP, BE, PCP e Movimento 2030 da Assembleia Municipal de Ovar solicitaram, em posição conjunta, o agendamento de uma sessão extraordinária desse órgão só para análise deste tema.

NR/HN/LUSA

 

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Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

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