“Na Ásia, alguns países estão a enfrentar aumentos médios de temperatura [da água] do mar, de dois ou três graus [Celsius], o que tem um impacto gigantesco na produção e na qualidade” das algas, disse Helena Abreu.
A responsável falava à margem da primeira Conferência Sino-Portuguesa sobre Biotecnologia Azul Sustentável, que terminou hoje na Universidade de São José, na região semiautónoma chinesa de Macau.
Segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), a Ásia foi responsável por 99,3% dos 36,5 milhões de toneladas de algas produzidas em 2022.
A presidente da Associação Internacional de Algas sublinhou que as alterações climáticas são “um dos principais problemas” para o setor industrial das algas, não apenas na Ásia, mas em todo o mundo, devido às “perdas de biomassa e decréscimo de produtividade”.
O setor está a tentar, de forma conjunta, desenvolver estirpes “que sejam mais resistentes aos fatores de ‘stress’, como o aumento de temperatura, doenças ou pestes”, explicou.
As algas portuguesas são utilizadas em áreas como alimentação humana, produção de suplementos e produtos de saúde, cosmética, agricultura, alimentação animal e biotecnologia azul.
A PROALGA – Associação Portuguesa dos Produtores de Algas, da qual Helena Abreu é cofundadora, disse à Lusa, no início de abril, que a maior parte da produção doméstica (mais de 90%) é destinada à exportação.
Ainda assim, a responsável sublinhou que os portugueses têm adotado de forma “muito mais célere” do que em outros países europeus produtos com algas, que já estão disponíveis “nas grandes cadeias de supermercados”.
Para a presidente da Associação Internacional de Algas, o próximo passo pertence às associações do setor, que devem informar melhor o consumidor, porque “há já informação suficiente, científica e técnica para recomendar a utilização de algas”.
Helena Abreu defendeu ainda que, “neste momento, temos muito a aprender com a China”, que é a “maior potência de produção e de valorização de algas a nível mundial”.
Em 2022, a China produziu 22,4 milhões de toneladas de algas, muito à frente da segunda classificada no ‘ranking’ da FAO, a Indonésia, com 9,2 milhões de toneladas.
A diretora do Centro de Biotecnologia e Química Fina da Universidade Católica Portuguesa, Manuela Pintado, disse à Lusa que a Conferência Sino-Portuguesa sobre Biotecnologia Azul Sustentável serviu para empresas e universidades dos dois países aprenderem umas com as outras.
“Há áreas muito avançadas na China, nomeadamente a aquacultura, a produção de algas e microalgas, onde a dimensão e a escala da China permitiram atingir uma evolução de produto que ainda não atingimos em Portugal”, disse.
“É muito importante também o conhecimento, o avanço e, sobretudo, a escala da China, como uma forma de preparação das nossas empresas para um salto quantitativo em muitas áreas”, acrescentou a investigadora.
NR/HN/Lusa
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