‘Resort’ turístico timorense fecha devido à fragilidade do setor e às alterações climáticas

16 de Julho 2020

Um dos principais 'resorts' turísticos timorenses, localizado na zona de Liquiçá, a leste de Díli, anunciou hoje o seu encerramento devido ao impacto da situação económica, dos obstáculos ao setor do turismo e das alterações climáticas

Caimeo Beach, que começou a ser construído há 10 anos, estava a sentir dificuldades que se agravaram nos últimos meses, com o golpe final a residir em danos causados pelo oceano, que, segundo o proprietário, Tyson Yeo, está “a mudar significativamente toda a orla costeira” na zona.

“Os obstáculos ao setor do turismo em Timor-Leste não só não melhoraram como [se] agravaram e a situação económica que era má agravou-se nos últimos meses, devido à pandemia da covid-19”, explicou o proprietário Tyrson Yeo.

“É triste. Temos que nos focar nas boas memórias que temos do espaço e que os nossos clientes têm e pensar que talvez, daqui a cinco anos, se as coisas no turismo mudarem em Timor-Leste, podemos reabrir”, afirmou.

O projeto começou a ser construído em 2010, primeiro como um restaurante e bar e um espaço de ‘glamping’, com tendas de campismo de melhor qualidade.

“Fomos aumentando, construindo ‘villas’ e melhorando as coisas. Penso que, no total, investimos mais de um milhão de dólares no projeto”, explicou.

A região de Liquiçá, onde as oportunidades de emprego são reduzidas, perde assim mais uma empresa – que chegou a ter 25 funcionários a tempo inteiro e até mais 10 casuais, adquirindo na zona muitos dos produtos que usava no restaurante.

“Quando começámos a investir, pensámos que Timor-Leste ia emergir como um destino turístico, mas os obstáculos do setor não só melhoraram como se foram agravando”, explica.

A falta de informação para visitantes tanto ‘online’ como à chegada a Díli, o facto de não se poder usar Mastercard no país – uma das marcas mais usadas na vizinha Austrália – e de até ser complicado trocar dinheiro, somam-se a dificuldades mais amplas como os reduzidos e elevados custos de viagens aéreas e infraestruturas deficientes no setor.

Sucessivos governos timorenses apontam o setor do turismo como um dos prioritários, mas pouco ou nada tem sido feito de concreto para melhorar as condições nesta matéria, com o setor privado a desenvolver projetos que embatem depois em carências mais estruturais.

A situação agravou-se com a crise económica e política que Timor-Leste tem vivido e agora particularmente com a situação do covid-19, com o país fechado há vários meses – não há ainda certeza sobre quando vai abrir.

Estimativas apontam a que mais de uma centena de empresas já fechou atividade só nos últimos meses em vários setores económicos, incluindo restauração, turismo e hotelaria.

Ao Governo, Yeo recomenda que coopere mais e melhor com o setor privado, garantindo que “juntos se podem ultrapassar os obstáculos” do setor, notando que pouco ou nada tem sido feito para ir corrigindo “mesmo os pequenos problemas”.

“Estamos a falar de algumas pequenas mudanças que poderiam ter um grande impacto. Mas que não ocorrem”, referiu.

Igualmente problemáticas têm sido as alterações climáticas, com Timor-Leste a sentir o impacto ao longo de vários pontos da sua costa, especialmente com marés mais fortes e uma ondulação, especialmente na costa norte, mais intensa que o normal.

Yeo explicou que, nos primeiros anos, a maré cheia mal tocava nas paredes de rocha de contenção da zona do resort, mas que há mais de um ano começaram a ocorrer nas zonas ondas de grande dimensão, sem precedentes.

“Pensámos que seria uma situação pontual, mas tem sido cada vez mais frequente e agora até a maré vaza chega à parede. Toda a costa aqui está a mudar e, em alguns locais, perderam 25 metros”, explicou.

“Se tivéssemos hóspedes e receitas a entrar, talvez pudéssemos responder à questão do mar, reforçando a parede e melhorando as infraestruturas. Mas sem clientes e sem receitas, é impossível”, explicou.

O responsável do projeto mostra-se pouco otimista em que a situação mude no futuro, a curto ou médio prazo, considerando que os danos “ao pouco setor do turismo, no país, vão continuar”.

“As empresas não aguentam, e não vão aguentar”, lamentou.

NR/HN/LUSA

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