Os cinco dossiês que regressam à AR em setembro

25 de Julho 2020

O parlamento regressa de férias em setembro com rotinas alteradas, como o fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro, e com um dossiê polémico, a eutanásia.

Sete meses depois do primeiro confinamento devido à pandemia de covid-19, que quase paralisou a Europa e muitos países do mundo, os deputados voltam ao trabalho com a dúvida da evolução do surto que já fez mais de 1.700 mortos em Portugal.

 Eutanásia

A Assembleia da República tem em curso o debate da lei para a despenalização da morte medicamente assistida, depois de ter aprovado, em 20 de fevereiro, cinco projetos do PS, BE, PEV, PAN e Iniciativa Liberal, por maioria e na generalidade.

Nas últimas semanas, o grupo de trabalho criado para o efeito, na comissão de Assuntos Constitucionais, ouviu entidades, a favor e contra, terminando esse ciclo de audições com as Ordens dos Enfermeiros e dos Médicos.

Quando regressarem de férias, arranca, formalmente, o debate na especialidade e o trabalho da deputada do PS Isabel Moreira, que fará um projeto de texto de substituição consensual.

A lei só será aprovada em definitivo após o debate na especialidade e a votação final global no parlamento, dependendo a sua entrada em vigor a promulgação pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. À direita, o CDS-PP é contra e o PCP também. No PSD, há divisões e no PS igualmente.

Pendente está também uma iniciativa popular, assinada por 95.287 pessoas, para a realização de um referendo à despenalização da eutanásia, que ainda não tem data para ser debatido e votado no parlamento.

Os diplomas preveem que só possam pedir a morte medicamente assistida, através de um médico, pessoas maiores de 18 anos, sem problemas ou doenças mentais, em situação de sofrimento e com doença incurável.

Propõem também a despenalização de quem pratica a morte assistida, nas condições definidas na lei, garantindo-se a objeção de consciência para os médicos e enfermeiros.

Orçamento do Estado de 2021

É um dossiê que passa pelo parlamento, mas não em exclusivo, dado que já começaram, na sede do Governo, a poucas centenas de metros da Assembleia da República, as negociações prévias do PS com os antigos parceiros da anterior maioria parlamentar (2015-19), também chamada de “geringonça”, Bloco de Esquerda, PCP, PEV e PAN.

Na esquerda mais à esquerda, PCP e BE fazem, publicamente, força junto do Governo e do PS para haver uma reforma das leis laborais, incluindo o que os socialistas negociaram com o PSD na anterior legislatura quanto ao período experimental. É esse prazo que agora comunistas querem encurtar. Da parte do Bloco, além das leis laborais, coloca-se a ênfase no investimento nos serviços públicos (também defendido pelo PCP) e medidas de proteção aos rendimentos dos portugueses em tempos de pandemia.

Quanto aos entendimentos do Governo à direita, é um cenário. António Costa, líder do PS e primeiro-ministro, já admitiu que o PSD “não tem peste”, mas afastou esse caminho. E Rui Rio, líder do PSD, também disse que o PS não tem peste, embora tenha qualificado de difícil um entendimento com o executivo no orçamento.

Em termos políticos, o momento também é complicado: “vésperas” de campanha eleitoral e presidenciais, com o Presidente da República impedido, constitucionalmente, de dissolver o parlamento e convocar eleições.

Condicionalismos que já levaram Ferro Rodrigues, presidente do parlamento e segunda figura do Estado, a considerar pouco provável uma crise política em 2021.

Lei do financiamento partidário

Apresentada pelo PSD pouco antes do início da crise da pandemia, o projeto laranja teve o apoio do PS, ainda que parcial, mas o suficiente para aprovar a proposta para desresponsabilizar as direções nacionais financeiras por despesas feitas sem autorização central.

Uma “questão de clarificação das responsabilidades de gestão por parte dos mandatários financeiros das campanhas eleitorais”, justificou o deputado Jorge Lacão, em resposta a um “desafio” de Rui Rio, líder do PSD, para um ajustamento da lei para que quem fizer “dívida em nome do partido sem serem autorizado” – uma situação frequente em campanhas eleitorais autárquicas.

Regulamentação do lóbi

Se em 2019 a lei caiu, mesmo depois de uma tentativa de última hora no parlamento de salvar o diploma vetado pelo Presidente da República, o CDS foi o primeiro a reapresentar o seu projeto nesta sessão legislativa.

Seguiu-se o PAN para regular a atividade do lóbi em Portugal, estabelecendo “regras de transparência aplicáveis” nas relações “entre entidades públicas e outras entidades que, sob qualquer forma, pretendam assegurar a representação dos grupos de interesses” ou lóbis. Na agenda da Assembleia da República de 2020, este tema ficou para trás.

Residência alternada

Depois do debate, em dezembro de 2019, dos dois projetos, do PS e do PAN, foi formado um grupo de trabalho na comissão de Assuntos Constitucionais para tratar o tema e fazer audições, que ainda não terminaram.

O tema não é pacífico: alterar o Código Civil e estabelecer uma preferência pelo regime da residência alternada em caso de divórcio ou separação judicial, sem necessidade de acordo mútuo entre os pais.

LUSA/HN

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