“Começámos bem e terminámos bem [na resposta à pandemia de covid-19], mas houve aspetos menos bem conseguidos pelo meio. É importante fazer uma avaliação externa, independente, para perceber o que correu menos bem para que isso possa servir de contexto e diagnóstico para avançarmos e suprirmos essas necessidades”, afirmou o presidente da Assembleia Geral da Associação dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, que falava durante o Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, que decorre em Lisboa, num debate intitulado “O que aprendemos com a covid-19”.
O epidemiologista notou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem as ferramentas para essa avaliação, considerando que deveria haver uma postura proativa na análise do sistema, quer na capacidade de prevenção, de deteção e posteriormente na resposta às necessidades.
“Temos de ser mais proativos e menos reativos”, defendeu, considerando que o país tem agora “o contexto para não cometer os mesmos erros”.
Também o antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, João Gouveia, afirmou que a pandemia “expôs o que há de bom e o que há de mau na saúde em Portugal”, considerando, por isso, que seria importante fazer-se “uma análise séria do que se passou para se tirarem ilações para o futuro”.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, no final do debate, voltou a vincar a questão, considerando que é unânime entre os especialistas a necessidade de uma avaliação da resposta à pandemia.
“É importante perceber o que fizemos bem e o que fizemos mal e parece-me que é também fundamental exigir uma reserva estratégica na área da saúde”, garantindo um “estado de preparação e prontidão” para responder a desafios do quotidiano, mas também aos “desafios extra que possam surgir”, apontou.
O presidente do Hospital de São João (Porto), Fernando Araújo, considerou que a grande lição da pandemia se centra na necessidade de “planear, organizar e antecipar os problemas”.
Para o também antigo secretário de Estado Adjunto da Saúde, falta autonomia aos hospitais, capacidade de reter e contratar recursos humanos e assegurar uma programação de investimento na área.
Já o diretor do Serviço de Infecciologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Vítor Duque, considerou que a covid-19 chamou a atenção para a necessidade de se implementar uma abordagem pluridisciplinar nos hospitais, defendendo a necessidade de um “grau de preparação mínimo” para futuras pandemias.
Os oradores apontaram também para questões como a necessidade de melhoria dos sistemas de informação, aumento da capacidade de camas nos cuidados intensivos, mais investimento na área da saúde pública ou melhor capacidade de comunicação da incerteza.
A médica Conceição Outeirinho, da direção da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, defendeu ainda uma aposta na literacia para a saúde e a importância de formar recursos que permitam “flexibilidade” de resposta em contextos complexos, como foi o caso da covid-19.
O Congresso Nacional da Ordem dos Médicos decorre este fim de semana na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, tendo como tema “Cenários para 2040 – A Medicina no Tempo Pós-Covid”.
LUSA/HN
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